terça-feira, 20 de maio de 2008

Ji-Paraná: gangorra e guerra

Um clássico entre Ulbra e Jipa, sob atenta observação de arqueiro atacado pelo Zorro

Para o futebol rondoniense, as mudanças ocorridas na década passada não se distanciam muito do que se viveu no Amapá: depois de um amadorismo vindo de muitos anos – no caso, desde 1945, ano do primeiro estadual –, em 1991 tiveram início as disputas profissionais. E, com a entrada do dinheiro no jogo, também acabava uma era; clubes tradicionais de Porto Velho como Ferroviário (17 títulos), Flamengo e Moto Clube (10 títulos cada), principais campeões do Rondoniense, simplesmente deixaram de levantar troféus ou disputar torneios, abrindo um vácuo no qual interioranos então fundados há pouco tiveram a chance de crescer: desde o começo do profissionalismo, apenas um campeonato foi conquistado por um time da capital, e mesmo ele foi às mãos de uma agremiação recente, o CFA (Centro de Futebol da Amazônia), surgido em 1999 e campeão em 2002.

Dentre os interioranos cujo brilho foi realçado no novo período, apareceram a Ariquemes (bicampeã em 1993 e 1994), o Guajará (vencedor em 2000), a União Cacoalense (bicampeã em 2003 e 2004) e o VEC (Vilhena Esporte Clube, melhor time em 2005). Nenhum deles, porém, obteve o destaque do Ji-Paraná Futebol Clube. Fundado em 22 de abril de 1991, campeão de Rondônia pela primeira vez oito meses depois, o time reinou absoluto durante os anos seguintes: dos onze campeonatos entre 1991 e 2001, ganhou oito e foi vice em dois. No início da nova década experimentou o amargo gosto de ter a soberania questionada pelo crescimento de novas equipes de outras cidades, mas ainda conseguia manter competitividade, chegando a decisões, mesmo sem vencê-las.

Isso ainda era suportável. O golpe maior veio de dentro da própria cidade de Ji-Paraná, em 2005: sob os moldes do Sport Club Ulbra de Canoas, no Rio Grande do Sul, clube da Universidade Luterana do Brasil, era criado o S.C. Ulbra de Rondônia. Sem tradição ou torcida, a idéia era fazer com que o trabalho sério e alguma parceria inicial com o co-irmão citadino trouxesse resultados rápidos e, estes, investimentos. Foi um sucesso: em 2005, título da Segunda Divisão do Estado; em 2006 e 2007, bicampeonato rondoniense.

Enquanto, até por ajuda sua, com o empréstimo de jogadores, o pretenso rival tomava o trono que um dia fora seu, o Ji-Paraná decaía. Mais do que conquistar novos investimentos, a Ulbra também quebrou o monopólio do Jipa em conseguir o apoio da cidade, dividindo as coisas e criando uma situação fatal ao outrora único clube dali. Em dificuldades frente à nova realidade, o Ji-Paraná Futebol Clube chegou a um ponto impensável no ano passado: venceu apenas um jogo em 12 rodadas do Campeonato Rondoniense, acabou na lanterna, e foi rebaixado à segundona. A Ulbra, por outro lado, continua no caminho cuidadosamente planejado desde o seu surgimento e, neste 2008, atingiu a terceira final do Estado consecutiva, garantida no último fim de semana após massacrar o Jaruense fora de casa por 1-6. O tricampeonato estará em jogo contra o Vilhena nos próximos dias.

Como o início do profissionalismo, há 17 anos, representou o quase sumiço definitivo dos grandes clubes amadores de Rondônia, a fundação da Ulbra significou, ao Ji-Paraná, aquilo que poderia ser o início do seu fim: construiu-se uma gangorra na cidade, e quem está embaixo é ele. Ao contrário da Ulbra, contudo, o Jipa tem torcida. E dela vem a força para reverter o quadro de hoje. Acreditar que, sim, é possível voltar a reinar no Estado. A partir de agosto, com as primeiras jornadas da Segunda Divisão, estará dada a largada para a guerra que começa visando o acesso, mas só terminará com a conquista de um novo Campeonato Rondoniense pelo Galo de Rondônia. Será daqueles casos em que só há a opção de se realizar a façanha – ou morrer tentando.

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