A maior parte das mulheres que conheço não gosta de azeitonas. Observam enojadas e deixam num canto do prato. Digamos que é uma proporção de setenta por cento de almas avessas ao CAROÇO ENGOMADO presente nos pratos mais variados. Falo isso apenas para introduzir o assunto, porque faltam explicações embasadas na CIÊNCIA para o ódio da população feminina em relação às bolotas pretas, verdes, roxas ou, vá lá, FÚCSIAS. O que me importa é a bolota, independente da cor.
A azeitona é um jogador que serve para completar o time em qualquer canto. Daqueles muito ruins, que entram onde sobrar lugar. Ou dos espetacularmente bons, que se garantem na posição em que o treinador colocar. O DILEMA da oliva é justamente esse: para alguns é o Pelé do prato; para outros, o Jacozinho. Os filósofos gregos, aqueles desocupados que passavam o dia propagando a falta de sentido entre o povo, deveriam ter dedicado algumas horas ao estudo da azeitona, que gregos gostam de oliveiras, mas preferiram tentar (não) entender essas questões desimportantes como a vida, as ideias e todas as coisas.
O que eu sei das azeitonas, na falta de uma análise ARISTOTÉLICA a respeito, eu aprendi nas TERRINAS de couvert do mundo. Aquelas que chegam como uma cortesia antes do resto, até do menu, e depois surgem misteriosamente na conta, abaixo de coca-colas e acima de águas jamais consumidas. O couvert, a entradinha, são os pãezinhos secos ou torrados acompanhados de manteiga, margarina ou coisas pastosas de coloração indefinida e gosto misterioso; os ovinhos de codorna em conserva, os salaminhos, os queijinhos, os pepininhos.
As azeitoninhas.
Nunca vi azeitonas sem caroço nos restaurantes que se dignam a servi-las. As cores variam e algumas inclusive parecem estar pretas por PUTREFAÇÃO ao invés de obra genética, mas o caroço é o torcedor de fé que não falta a um jogo no estádio. Sempre presente, em qualquer situação. Comprou o pacote de ingressos para a temporada inteira e está lá mesmo que o time apareça só pra cumprir tabela. Os teóricos do azeite de oliva (?) dizem que a ausência do caroço – e, com nojo, complementam: “substituído por PIMENTÃO” – equivale a sacar da azeitona seus HUMORES essenciais para subsistir sobre a face da Terra. Uma azeitona sem caroço não teria nem alma e ainda querem achar sabor? Ah, os inocentes – pensam eles com um ar superior emanando das RETINAS.
O caroço é, também, uma promessa de ADRENALINA correndo pelo corpo. Só existem cinquenta e nove sensações catalogadas pelos biólogos como mais intensas do que mastigar furiosamente uma azeitona – incluídos aí o orgasmo e o tratamento de canal – e, num átimo de desatenção, cravar sua semente entre os molares superiores e inferiores. Além de ser um risco emocionante para as dentições mais frágeis, o caroço é um inimigo da reputação da própria azeitona. Quanto menos CARNE tiver o fruto da oliveira, maior parecerá o caroço. E mais árdua a tarefa de extrair dali algo comestível.
Mas a azeitona costuma vir farta, gorda como uma GIRONDA prenha. Quem a seca como um torcedor do Pelotas em dia de jogo do Brasil é a geladeira. Sim, aquela Brastemp em aço escovado, reluzente de nova, que ruge na cozinha e às vezes até perturba o sono no sofá da sala, é ela que está murchando e endurecendo as azeitonas guardadas com tanto ZELO – e que a mulher, provavelmente, despreza por completo e todos os dias dá uma olhada querendo atirar pela janela. Minha tese é toda sustentada por comprovações empíricas colhidas ao largo dos anos e tem uma boa dose de achismo, mas é minha.
Uma azeitona não resiste a um dia de geladeira. Não é como, sei lá, uma MORTADELA, um requeijão ou um patê de rabo de pato defumado, que duram alguns dias até serem devidamente comidos. Diz a embalagem que o pote de azeitonas sobrevive bem por dez dias depois de aberto, desde que conservado num ambiente refrigerado. Mas é balela e, você, com toda a cultura adquirida nos QUADRINHOS E CRUZADAS do Segundo Caderno da Zero Hora, não é pessoa de cair em balelas. Os próprios azeitonófilos (?), quando produzem a embalagem lá na fábrica, torcem para que as pelotinhas sejam todas consumidas de uma vez e a FALÁCIA não fique tão clara.
A verdade cabal, inquestionável e sólida, meus amigos, é que um pote de azeitonas só tem qualidade na primeira pegada. Esqueça o picadinho completo, a pizza ou o que for mais elaborado. Use todas as azeitonas de uma vez. Nem que produza doses intermináveis de drinks e distribua entre os vizinhos. Você pode comer no dia seguinte, e no outro, no outro e (se estiver famélico) no outro, mas não vai ser a mesma coisa. Aquilo já não serão AZEITONAS, dignas de caixa alta. Serão zeitoninhas. Endurecidas em sua razão de existir, enrugadas pela canseira dos dias e jururus por não terem podido ser.
O Fluminense deste fim de ano é das coisas mais espetaculares de ver que o futebol brasileiro produziu na década. O time morto que ressurgiu para jogos copeiros e sonhos altos. Aquele jogo de ontem contra o Cerro Porteño com remontada nos acréscimos, por Dios, merecia ser enquadrado e pendurado na sala de casa. Um gol de GUM ensanguentado, outro tento driblando o goleiro no MEIO DE CAMPO e uma briga com PRISÕES no fim, tudo coroado com classificação à final continental para os cariocas. Foi de olhar para os céus, erguer o polegar em sinal de positivo e dizer que fizeram um bom trabalho inventando o futebol. O Flu, definitivamente, abriu um pote de azeitonas no momento em que Fred acordou. E os tricolores estão se deliciando com a iguaria desde que iniciaram sua série invicta, agora contando doze jogos.
Mas precisam continuar com fome. Precisam ir até o fim nessa toada. A geladeira do Fluminense é uma derrota. Perder alguma das finais da Sul-Americana ou um jogo do Brasileirão pode aniquilar o espírito e condenar o que ainda há de aproveitável no fundinho do pote. Aí nenhuma das últimas azeitonas será tão agradável ao paladar como poderia. E a reação pode acabar como ilusão, num vice e num rebaixamento, tornando o fim de ano mais doloroso do que seria com uma queda óbvia. Termine essas azeitonas, Flu. Não olhe para os queijinhos!
A azeitona é um jogador que serve para completar o time em qualquer canto. Daqueles muito ruins, que entram onde sobrar lugar. Ou dos espetacularmente bons, que se garantem na posição em que o treinador colocar. O DILEMA da oliva é justamente esse: para alguns é o Pelé do prato; para outros, o Jacozinho. Os filósofos gregos, aqueles desocupados que passavam o dia propagando a falta de sentido entre o povo, deveriam ter dedicado algumas horas ao estudo da azeitona, que gregos gostam de oliveiras, mas preferiram tentar (não) entender essas questões desimportantes como a vida, as ideias e todas as coisas.
O que eu sei das azeitonas, na falta de uma análise ARISTOTÉLICA a respeito, eu aprendi nas TERRINAS de couvert do mundo. Aquelas que chegam como uma cortesia antes do resto, até do menu, e depois surgem misteriosamente na conta, abaixo de coca-colas e acima de águas jamais consumidas. O couvert, a entradinha, são os pãezinhos secos ou torrados acompanhados de manteiga, margarina ou coisas pastosas de coloração indefinida e gosto misterioso; os ovinhos de codorna em conserva, os salaminhos, os queijinhos, os pepininhos.
As azeitoninhas.
Nunca vi azeitonas sem caroço nos restaurantes que se dignam a servi-las. As cores variam e algumas inclusive parecem estar pretas por PUTREFAÇÃO ao invés de obra genética, mas o caroço é o torcedor de fé que não falta a um jogo no estádio. Sempre presente, em qualquer situação. Comprou o pacote de ingressos para a temporada inteira e está lá mesmo que o time apareça só pra cumprir tabela. Os teóricos do azeite de oliva (?) dizem que a ausência do caroço – e, com nojo, complementam: “substituído por PIMENTÃO” – equivale a sacar da azeitona seus HUMORES essenciais para subsistir sobre a face da Terra. Uma azeitona sem caroço não teria nem alma e ainda querem achar sabor? Ah, os inocentes – pensam eles com um ar superior emanando das RETINAS.
O caroço é, também, uma promessa de ADRENALINA correndo pelo corpo. Só existem cinquenta e nove sensações catalogadas pelos biólogos como mais intensas do que mastigar furiosamente uma azeitona – incluídos aí o orgasmo e o tratamento de canal – e, num átimo de desatenção, cravar sua semente entre os molares superiores e inferiores. Além de ser um risco emocionante para as dentições mais frágeis, o caroço é um inimigo da reputação da própria azeitona. Quanto menos CARNE tiver o fruto da oliveira, maior parecerá o caroço. E mais árdua a tarefa de extrair dali algo comestível.
Mas a azeitona costuma vir farta, gorda como uma GIRONDA prenha. Quem a seca como um torcedor do Pelotas em dia de jogo do Brasil é a geladeira. Sim, aquela Brastemp em aço escovado, reluzente de nova, que ruge na cozinha e às vezes até perturba o sono no sofá da sala, é ela que está murchando e endurecendo as azeitonas guardadas com tanto ZELO – e que a mulher, provavelmente, despreza por completo e todos os dias dá uma olhada querendo atirar pela janela. Minha tese é toda sustentada por comprovações empíricas colhidas ao largo dos anos e tem uma boa dose de achismo, mas é minha.
Uma azeitona não resiste a um dia de geladeira. Não é como, sei lá, uma MORTADELA, um requeijão ou um patê de rabo de pato defumado, que duram alguns dias até serem devidamente comidos. Diz a embalagem que o pote de azeitonas sobrevive bem por dez dias depois de aberto, desde que conservado num ambiente refrigerado. Mas é balela e, você, com toda a cultura adquirida nos QUADRINHOS E CRUZADAS do Segundo Caderno da Zero Hora, não é pessoa de cair em balelas. Os próprios azeitonófilos (?), quando produzem a embalagem lá na fábrica, torcem para que as pelotinhas sejam todas consumidas de uma vez e a FALÁCIA não fique tão clara.
A verdade cabal, inquestionável e sólida, meus amigos, é que um pote de azeitonas só tem qualidade na primeira pegada. Esqueça o picadinho completo, a pizza ou o que for mais elaborado. Use todas as azeitonas de uma vez. Nem que produza doses intermináveis de drinks e distribua entre os vizinhos. Você pode comer no dia seguinte, e no outro, no outro e (se estiver famélico) no outro, mas não vai ser a mesma coisa. Aquilo já não serão AZEITONAS, dignas de caixa alta. Serão zeitoninhas. Endurecidas em sua razão de existir, enrugadas pela canseira dos dias e jururus por não terem podido ser.
O Fluminense deste fim de ano é das coisas mais espetaculares de ver que o futebol brasileiro produziu na década. O time morto que ressurgiu para jogos copeiros e sonhos altos. Aquele jogo de ontem contra o Cerro Porteño com remontada nos acréscimos, por Dios, merecia ser enquadrado e pendurado na sala de casa. Um gol de GUM ensanguentado, outro tento driblando o goleiro no MEIO DE CAMPO e uma briga com PRISÕES no fim, tudo coroado com classificação à final continental para os cariocas. Foi de olhar para os céus, erguer o polegar em sinal de positivo e dizer que fizeram um bom trabalho inventando o futebol. O Flu, definitivamente, abriu um pote de azeitonas no momento em que Fred acordou. E os tricolores estão se deliciando com a iguaria desde que iniciaram sua série invicta, agora contando doze jogos.
Mas precisam continuar com fome. Precisam ir até o fim nessa toada. A geladeira do Fluminense é uma derrota. Perder alguma das finais da Sul-Americana ou um jogo do Brasileirão pode aniquilar o espírito e condenar o que ainda há de aproveitável no fundinho do pote. Aí nenhuma das últimas azeitonas será tão agradável ao paladar como poderia. E a reação pode acabar como ilusão, num vice e num rebaixamento, tornando o fim de ano mais doloroso do que seria com uma queda óbvia. Termine essas azeitonas, Flu. Não olhe para os queijinhos!
Foto extraída do PÂNCREAS do site oficial do Fluminense.
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