domingo, 19 de abril de 2009

Como o Rolo Compressor

Pelo segundo ano consecutivo e pela 39° vez na história do campeonato, o Internacional sagra-se campeão do Rio Grande. Dezenas de taças estaduais encontram-se no memorial do Beira-Rio, mas poucas vezes uma foi conquistada com tanta superioridade como em 2009. O centenário do clube iniciou maravilhosamente bem: vencer o Gauchão, os três Gre-Nais e enfileirar novamente oito gols em um quadro serrano na decisão foram feitos suficientes para alumiar os primeiros meses de um ano que promete ser um dos grandes da memória do Inter.

Sair campeão de maneira tão absoluta e simples talvez não seja o exemplo de título mais comemorado pelo torcedor. A autoridade colorada tornou-se evidente na vasta lista de goleadas na campanha: os vermelhos massacraram, no primeiro turno, o Sapucaiense (4-0), a Ulbra (4-1), o Caxias (5-1) além de duas vitórias no clássico. Na Taça Fábio Koff, o poderio ofensivo foi ainda mais impactante: 4-0 no Veranópolis, 7-1 no Brasil-PE, 4-1 no Novo Hamburgo, 6-2 no Esportivo, 4-0 na Ulbra e 8-1 no Caxias, hoje à tarde. A parte mais deliciosa de um título como esse, porém, encontra-se no outro lado da rivalidade. Apesar da liderança e do desempenho regular do Grêmio na Copa Libertadores, o fato de ver, impotente, o outro ser tão melhor em plena Província machuca até o mais confiante dos gremistas. O triplo 2-1 no derby, inclusive, foi o fator que mais pesou na demissão de Celso Roth, incapaz de superar o pastor Tite nos clássicos estaduais.

E se a desgraça alheia deu mais sabor à conquista, o desempenho do ataque foi a característica mais notável do Internacional no campeonato. Com Taison e Nilmar o colorado foi extremamente ofensivo sem necessitar de um terceiro atacante. Com Taison e Nilmar o esférico parou no ataque, as investidas fluíram naturalmente e surgiram, de seus pés, 28 tentos. Com Taison e Nilmar, o Internacional mesclou velocidade, força, finalização e técnica refinada. O melhor ataque da competição ainda teve em Alecssandro, Andrezinho e D'Alessandro companhias de grande competência para chegar ao arco adversário.

A defesa teve em Índio um líder firme e eficiente. Victor teve em Índio o seu carrasco. Por duas vezes. Zagueiro de duas áreas, Índio recebeu até comparações com Figueroa, mais do que um ídolo, um herói colorado. Foi o grande nome defensivo de uma campanha que teve indiscutivelmente mais méritos ofensivos. Bolívar foi um lateral apenas discreto, que se restringiu a uma única função. Álvaro, de belo início, terminou o campeonato na rota inversa da que seguia o restante do time: as atuações do zagueiro caíram de produção. Kléber, o lateral da seleção brasileira, é um regalo que o Inter possui em sua banda esquerda. Mas que pode e vai render mais do que mostrou. Já Índio, mesmo distante dos holofotes do ataque, conseguiu a façanha de ser tão protagonista do título quanto os delanteros Taison e Nilmar.

Resta citar os acontecimentos improváveis da tarde fria que Porto Alegre viveu hoje. 7 gols a 0 em apenas quarenta e cinco minutos. Massacre que não presenciei. Estava muito ocupado passando frio no Estádio Presidente Vargas, em Santa Maria, onde duelavam os juniores de Inter-SM e São Luiz de Ijuí. Desinteressante ou não, o espetáculo foi o programa escolhido inclusive por alguns colorados. Enquanto uma correria pouco produtiva era vista no gramado, o rádio anunciava o absurdo portoalegrense. A vitória e o título do Inter já estavam no roteiro imaginado. Os incríveis sete gols, porém, desencadearam frases de espanto dos presentes: "Taison e Nilmar por mais dez anos!", "Vai passar de dez, vai passar de dez.", "É o novo Rolo Compressor!". No intervalo, tomados por um entusiasmo que um acontecimento histórico provoca, as arquibancadas esvaziaram-se: muitos foram para casa conferir se era mesmo verdade o que um enlouquecido Pedro Ernesto Denardim berrava na Gaúcha. Tempos depois, foi a minha vez de ter a certeza: "é, foi 8-1 novamente." Poucos minutos passados das seis horas da tarde, encerrava-se o primeiro grande jogo do segundo século de história do Sport Club Internacional. Hoje, o melhor time do Brasil.

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