Faltavam uns quinze minutos para as quatro da tarde quando eu cheguei ao estádio Ervino Kronbauer, em Coronel Barros, para acompanhar a partida entre o Ipiranga de lá e o Santo Ângelo. Sobre o gramado ainda corria um jogo preliminar, com equipes de categorias inferiores. E não tinha cara de acabar a tempo de a partida principal ser iniciada às quatro em ponto, como estava previsto. Sentado à frente dos vestiários, Mazarópi*, o treinador dos missioneiros, me disse: “deve começar às quatro e meia”.
Era a minha deixa. Com um atraso daqueles, poderia fazer tranquilamente a entrevista pretendida. Vendo a preliminar ser jogada, eu e Mazarópi (recuso-me a identificar quem é quem na foto-de-fã acima) conversamos por alguns minutos. Fosse em outra ocasião, perguntaria muito mais sobre o passado no Grêmio e os episódios gloriosos, mas ontem o que interessava mesmo era saber como está o Santo Ângelo, protagonista de tantas batalhas da minha infância contra o São Luiz no 19 de Outubro, no seu retorno ao futebol e na sua preparação para a Segundona. Abaixo, então, a entrevista concedida pelo ex-goleiro e atual treinador ao Futebesteirol:
Futebesteirol: Nós sabemos as dificuldades financeiras que o Santo Ângelo tem: o clube não disputou a Segundona no ano passado e está voltando agora. Como foi a montagem do time para este ano, e como está sendo a evolução nesta pré-temporada?
Mazarópi: A montagem da equipe, nós tivemos que iniciar tudo da estaca zero. O clube ficou sem a participação no ano passado, e todo o recomeço é difícil, é complicado. Nós tivemos que montar todo um grupo de trabalho visando a competição no ano de 2009. Dentro do nosso planejamento, essas coisas estão correndo normalmente: a fase de preparação e os trabalhos físicos e técnicos durante a semana, e os jogos aos finais de semana, para ir dando ritmo aos jogadores, que também servem de avaliação para ver o estágio em que a equipe se encontra e ir corrigindo os erros que surgem, para que possamos entrar num estágio considerado razoável para o início de temporada.
Futebesteirol: Vocês fizeram dois amistosos. Hoje (ontem) vai ser o terceiro e tem mais um previsto. O jornal A Tribuna, de Santo Ângelo, publicou que a direção estaria tentando convidar o São Luiz para esse jogo. Vai ser contra o São Luiz mesmo? (Ver nota 1)
Mazarópi: Sim, nós fizemos dois amistosos. Eu pedi mais dois jogos. Tem dia 28 contra o TAC (Três Passos), que é um jogo numa situação excepcional, porque é em benefício a um gurizinho que necessita do apoio de todos nós, de ajuda para o seu tratamento. Não seria interessante você fazer amistosos com equipes da sua chave, como é o TAC, mas é uma situação excepcional, né, é um jogo beneficente e por isso nós concordamos em realizar esse amistoso. E eu gostaria de fazer um outro contra uma equipe profissional, e a direção está vendo da possibilidade ou não.
Futebesteirol: Quais jogadores estão brilhando mais nesse início?
Mazarópi: Eu acho que o grupo de jogadores tem se dedicado com bastante afinco, nós não temos a preocupação de estar buscando um ou outro jogador que esteja se destacando. O nosso objetivo aqui é o grupo, e nós temos que ter atenção com todo o grupo, dar condições a todos eles, porque sabemos a dificuldade que é a competição. Todos têm que estar preparados em igualdade de condições, para quando solicitado darem a resposta que todos nós esperamos.
Futebesteirol: Mas a equipe tem algum líder natural?
Mazarópi: Nós temos jogadores que têm mais experiência, que são mais jogados e que fazem a parte de motivação, de orientação, de apoio para aqueles mais novos. É importante essa mescla, para justamente dar tranquilidade àqueles mais novos, dar a experiência, contribuir com a sua vivência dentro da competição, para que eles possam ter a tranquilidade de desenvolver o potencial que cada um deles tem.
Futebesteirol: Muitas pessoas criticam a realização de amistosos contra equipes amadoras. Para o senhor, qual o ganho de uma partida como a de hoje? Vale o risco?
Mazarópi: Ela é importante para colocar a equipe em atividade. Eu gosto de jogar contra equipes mais fortes também, por isso pedimos um amistoso mais forte para a direção. Mas isso vai muito da possibilidade. Às vezes a distância também é complicada, porque nós temos aqui na nossa região os clubes que estão na nossa chave da Segundona, e não é interessante você fazer amistoso para a competição com equipes da sua chave. Mas eu acho que é válido (um jogo contra amadores), porque está dentro de um planejamento de preparação. Esses jogos servem pra gente ir fazendo observações, colocando jogadores em atividade contra equipes diferentes e jogadores diferentes, porque no dia a dia os jogadores vão se conhecendo e dificulta o trabalho no cotidiano. Então você tendo a oportunidade de fazer amistosos assim, é sempre importante para ver qual vai ser a reação deles, qual vai ser a movimentação, o desempenho, a desenvoltura da equipe, e a gente faz as observações e as correções que forem necessárias para aquilo que nós pretendemos na competição.
Futebesteirol: Em 2009, um exemplo de equipe que saiu da Segundona e vem fazendo um bom estadual foi o Ypiranga de Erechim, mantendo o Tonho como treinador por lá, num trabalho de longo prazo. Você percebe um trabalho no Santo Ângelo visando o sucesso no longo prazo, ou por enquanto a preocupação é só a re-estruturação básica mesmo?
Mazarópi: Para todo o trabalho é importante uma continuidade, para que você possa ter o tempo suficiente e hábil para ir preparando uma equipe para o objetivo que se tem. Mas o futebol brasileiro é um futebol imediatista, ele vive de resultados, e às vezes é mais fácil a troca de um treinador, para dar uma satisfação, em detrimento a uma continuidade e a uma convicção do trabalho que você pretende. Mas eu não estou preocupado com isso. Eu acho que o importante é você fazer o seu trabalho, ter a confiança no seu trabalho, procurar fazê-lo com tranquilidade e passar tranquilidade pros jogadores. O que vem depois é outra coisa. Eu me preocupo muito com o momento, e o nosso momento agora é a preocupação de preparar a equipe para iniciar a competição.
Futebesteirol: Muita gente gostaria de ver você de volta ao Grêmio, nem que fosse como treinador de goleiros...
Mazarópi: Quando você inicia uma carreira você está sempre buscando uma coisa a mais. E eu não fujo à regra. Todo mundo sabe o carinho, o amor que eu tenho pelo Grêmio, a minha proximidade com o Grêmio, e se houver oportunidade eu, sem sombra de dúvidas, retornarei ao Grêmio com a maior satisfação e a maior alegria.
Futebesteirol: Há um episódio pouco conhecido na história do Grêmio: dois dias depois do Mundial em 1983, teve um jogo em Los Angeles contra o América do México, valendo troféu, e a partida terminou empatada. Consta que o presidente Fábio Koff estaria disposto a entregar a taça pro adversário e o senhor teria pedido para disputar os pênaltis e salvou o Grêmio nas cobranças. Como foi isso? (Ver nota 2)
Mazarópi: Na verdade, eu não fiz pedido nenhum. O doutor Fábio que gentilmente quis oferecer o troféu à equipe do América e eles não aceitaram. Eles diziam que queriam ganhar dos campeões do mundo. E aí eu disse pra ele: “então vamos disputar, doutor Fábio, que nós vamos levar também, porque eu vou pegar logo uns dois pênaltis e levamos esse caneco também, mais um pra coleção do Grêmio”. E foi o que aconteceu. Não que eu tivesse pedido, o doutor Fábio que quis oferecer e eles não aceitaram porque queriam ir pros pênaltis... e eu procurei fazer a minha parte. Fui feliz, defendi duas penalidades e o Grêmio ganhou o torneio e trouxe mais um troféu.
Mazarópi: A montagem da equipe, nós tivemos que iniciar tudo da estaca zero. O clube ficou sem a participação no ano passado, e todo o recomeço é difícil, é complicado. Nós tivemos que montar todo um grupo de trabalho visando a competição no ano de 2009. Dentro do nosso planejamento, essas coisas estão correndo normalmente: a fase de preparação e os trabalhos físicos e técnicos durante a semana, e os jogos aos finais de semana, para ir dando ritmo aos jogadores, que também servem de avaliação para ver o estágio em que a equipe se encontra e ir corrigindo os erros que surgem, para que possamos entrar num estágio considerado razoável para o início de temporada.
Futebesteirol: Vocês fizeram dois amistosos. Hoje (ontem) vai ser o terceiro e tem mais um previsto. O jornal A Tribuna, de Santo Ângelo, publicou que a direção estaria tentando convidar o São Luiz para esse jogo. Vai ser contra o São Luiz mesmo? (Ver nota 1)
Mazarópi: Sim, nós fizemos dois amistosos. Eu pedi mais dois jogos. Tem dia 28 contra o TAC (Três Passos), que é um jogo numa situação excepcional, porque é em benefício a um gurizinho que necessita do apoio de todos nós, de ajuda para o seu tratamento. Não seria interessante você fazer amistosos com equipes da sua chave, como é o TAC, mas é uma situação excepcional, né, é um jogo beneficente e por isso nós concordamos em realizar esse amistoso. E eu gostaria de fazer um outro contra uma equipe profissional, e a direção está vendo da possibilidade ou não.
Futebesteirol: Quais jogadores estão brilhando mais nesse início?
Mazarópi: Eu acho que o grupo de jogadores tem se dedicado com bastante afinco, nós não temos a preocupação de estar buscando um ou outro jogador que esteja se destacando. O nosso objetivo aqui é o grupo, e nós temos que ter atenção com todo o grupo, dar condições a todos eles, porque sabemos a dificuldade que é a competição. Todos têm que estar preparados em igualdade de condições, para quando solicitado darem a resposta que todos nós esperamos.
Futebesteirol: Mas a equipe tem algum líder natural?
Mazarópi: Nós temos jogadores que têm mais experiência, que são mais jogados e que fazem a parte de motivação, de orientação, de apoio para aqueles mais novos. É importante essa mescla, para justamente dar tranquilidade àqueles mais novos, dar a experiência, contribuir com a sua vivência dentro da competição, para que eles possam ter a tranquilidade de desenvolver o potencial que cada um deles tem.
Futebesteirol: Muitas pessoas criticam a realização de amistosos contra equipes amadoras. Para o senhor, qual o ganho de uma partida como a de hoje? Vale o risco?
Mazarópi: Ela é importante para colocar a equipe em atividade. Eu gosto de jogar contra equipes mais fortes também, por isso pedimos um amistoso mais forte para a direção. Mas isso vai muito da possibilidade. Às vezes a distância também é complicada, porque nós temos aqui na nossa região os clubes que estão na nossa chave da Segundona, e não é interessante você fazer amistoso para a competição com equipes da sua chave. Mas eu acho que é válido (um jogo contra amadores), porque está dentro de um planejamento de preparação. Esses jogos servem pra gente ir fazendo observações, colocando jogadores em atividade contra equipes diferentes e jogadores diferentes, porque no dia a dia os jogadores vão se conhecendo e dificulta o trabalho no cotidiano. Então você tendo a oportunidade de fazer amistosos assim, é sempre importante para ver qual vai ser a reação deles, qual vai ser a movimentação, o desempenho, a desenvoltura da equipe, e a gente faz as observações e as correções que forem necessárias para aquilo que nós pretendemos na competição.
Futebesteirol: Em 2009, um exemplo de equipe que saiu da Segundona e vem fazendo um bom estadual foi o Ypiranga de Erechim, mantendo o Tonho como treinador por lá, num trabalho de longo prazo. Você percebe um trabalho no Santo Ângelo visando o sucesso no longo prazo, ou por enquanto a preocupação é só a re-estruturação básica mesmo?
Mazarópi: Para todo o trabalho é importante uma continuidade, para que você possa ter o tempo suficiente e hábil para ir preparando uma equipe para o objetivo que se tem. Mas o futebol brasileiro é um futebol imediatista, ele vive de resultados, e às vezes é mais fácil a troca de um treinador, para dar uma satisfação, em detrimento a uma continuidade e a uma convicção do trabalho que você pretende. Mas eu não estou preocupado com isso. Eu acho que o importante é você fazer o seu trabalho, ter a confiança no seu trabalho, procurar fazê-lo com tranquilidade e passar tranquilidade pros jogadores. O que vem depois é outra coisa. Eu me preocupo muito com o momento, e o nosso momento agora é a preocupação de preparar a equipe para iniciar a competição.
Futebesteirol: Muita gente gostaria de ver você de volta ao Grêmio, nem que fosse como treinador de goleiros...
Mazarópi: Quando você inicia uma carreira você está sempre buscando uma coisa a mais. E eu não fujo à regra. Todo mundo sabe o carinho, o amor que eu tenho pelo Grêmio, a minha proximidade com o Grêmio, e se houver oportunidade eu, sem sombra de dúvidas, retornarei ao Grêmio com a maior satisfação e a maior alegria.
Futebesteirol: Há um episódio pouco conhecido na história do Grêmio: dois dias depois do Mundial em 1983, teve um jogo em Los Angeles contra o América do México, valendo troféu, e a partida terminou empatada. Consta que o presidente Fábio Koff estaria disposto a entregar a taça pro adversário e o senhor teria pedido para disputar os pênaltis e salvou o Grêmio nas cobranças. Como foi isso? (Ver nota 2)
Mazarópi: Na verdade, eu não fiz pedido nenhum. O doutor Fábio que gentilmente quis oferecer o troféu à equipe do América e eles não aceitaram. Eles diziam que queriam ganhar dos campeões do mundo. E aí eu disse pra ele: “então vamos disputar, doutor Fábio, que nós vamos levar também, porque eu vou pegar logo uns dois pênaltis e levamos esse caneco também, mais um pra coleção do Grêmio”. E foi o que aconteceu. Não que eu tivesse pedido, o doutor Fábio que quis oferecer e eles não aceitaram porque queriam ir pros pênaltis... e eu procurei fazer a minha parte. Fui feliz, defendi duas penalidades e o Grêmio ganhou o torneio e trouxe mais um troféu.
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* Geraldo Pereira de Matos Filho, o Mazarópi, foi goleiro profissional por 22 anos, entre 1970 e 1992. Defendeu clubes como Vasco da Gama, Coritiba, Grêmio e Náutico, conquistando diversos títulos estaduais em cada um deles. Compôs o elenco vascaíno na conquista do Campeonato Brasileiro de 1974. Está na calçada da fama do Grêmio, por conta de títulos como a Libertadores e o Mundial de 1983, a Copa do Brasil de 1989 e o hexacampeonato gaúcho entre 1985 e 1990. Segundo a IFFHS, é dono do maior recorde de invencibilidade de um goleiro na história do futebol – 1816 minutos pelo Vasco, entre 1977 e 1978. Encerrada a carreira como jogador, Mazarópi foi treinador de goleiros no Japão por muitos anos e, desde a metade desta década, vem tentando engrenar como técnico em clubes do interior. Passou por Sapucaiense (RS), Vilhena (RO), Guarani de Venâncio Aires (RS) e comanda a SER Santo Ângelo desde dezembro passado.
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Notas:
1. Segundo noticiado, esse jogo poderia ocorrer no dia 26, o que Mazarópi desmentiu, a princípio.
2. Em 13/12/1983, retornando de Tóquio, onde vencera o Mundial, o Grêmio parou nos Estados Unidos e enfrentou o América do México, disputando a Taça Los Angeles, considerada por muitos uma edição não-oficial da Copa Interamericana – o troféu era o mesmo, embora o América não fosse campeão da CONCACAF. O tricolor empatou por 2-2 no tempo normal e venceu por 4-3 nos pênaltis.
5 comentários:
Mito, o seu Maza... Um dos goleiros gremistas mais dígnos de nota e respeito.
p.s: A Barba do Sr. Brum é algo...
Ficou apaixonado, é?
hahaha
Tô de férias. Barbear-me é algo totalmente secundário.
Terrivel, não me apaixonaria nem que fosse guei, e o guei mais desesperado da face da terra. haha.
Mas o Pirralho disse que gostou.
Abster-me-ei de comentários.
O América era o campeão da Taça das Nações disputada em Los Angeles em julho de 1983. Tanto a Taça das Nações como a Taça Los Angeles foram organizadas pela Califórnia Soccer Association sob supervisão da United Sates Soccer Federation (ambas filiadas a FIFA). Estas competições tinham sido autorizadas pela FIFA como parte da programação preparatória dos jogos Olímpicos de 1984 que visava promover o futebol junto aos americanos. A Taça Los Angeles em princípio deveria ter sido disputada pelos campeões da Conmebol e Concacaf, colocando em disputa concomitante a Taça Interamericana Concacaf - Conmebol. Esta ultima teve de ser cancelada por causa do atraso na definição do campeão da Concacaf em virtude da instabilidade econômica centro-americana. Para todos os efeitos, embora a Taça Los Angeles, não seja uma edição oficial da Taça Interamericana, trata-se sem dúvida de uma disputa oficial. A única competição de ambito pan-americano, organizada por entidades de administração do desporto em 1983 o que a torna relevante. Por conta da simbologia do troféu ela é também conhecida como "Taça Pan-Americana de Los Angeles". Claus Farina Historiador.
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