Copa Sul-Americana. Botafogo jogando na Argentina. Adversário com muito mais títulos internacionais. O jogo armado para ontem à noite no Ciudad de La Plata parecia ter roubado o roteiro de um ano atrás. Que tenham mudado a fase do torneio (quartas-de-final em vez de oitavas) e o adversário (Estudiantes no lugar do River) foram detalhes. Estava nítido que ninguém esqueceria, enquanto a partida andasse, do papelão botafoguense de 27 de setembro de 2007.
Quando o Estudiantes teve Alayes expulso aos dezoito minutos, o comentário forçado pela memória recente foi inevitável: “agora que o Botafogo entrega”. Não havia ironia na previsão. O 2007 dos cariocas foi carbonizado naquela tragédia contra o River Plate, pela Sul-Americana, uma vitória por 1-2 sobre os argentinos (e 1-3 no agregado parcial) que virou derrota por 4-2 e eliminação com direito a gol aos noventa e um minutos após os do Monumental de Núñez terem dois expulsos.
E o Botafogo é dos clubes mais previsíveis em sua desgraça. Luis Fernando Veríssimo escreveu certa vez que, mesmo nos tempos de Garrincha, “você era obrigado a amar o Botafogo apesar do Botafogo”. Porque mesmo naquela época de glórias e grande futebol, o time conquistava muito menos do que era capaz. Criou-se na sua mística, o alvinegro, e acredita, com algum conformismo até hoje, que há coisas que só acontecem com o Botafogo.
É a Lei de Murphy versão Estrela Solitária, a forma de justificar os absurdos que voltaram a ser evidentes nos fracassos das duas últimas temporadas. Se pode dar errado, dará, pois “somos nós em campo”. Ontem, a exemplo do ano passado, o Bota em superioridade numérica foi batido pelos oponentes, e o Estudiantes de Verón abriu 2-0 na eliminatória. O bom jogo carioca voltou, ironicamente, após a expulsão de Túlio, reequilibrando o número de atletas em campo.
Essa repetição de mau aproveitamento de cenários favoráveis reduz a aplicabilidade de Murphy. No caso botafoguense, não basta haver a concretização das possibilidades negativas: é preciso que isso ocorra quando não pode acontecer. O Botafogo é melhor explicado pela Lei de Finagle: o que pode dar errado, dará – no pior momento possível.
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