Não duvidem que a exagerada expressão acima se transforme em bordão, ao menos na Argentina. Acuado com a tabela do descenso e com o nível de sua equipe, o Apertura já iniciou nervoso para o Racing Club. A campanha até aqui não colaborou para uma mudança de ânimos. Hoje, o confronto era no Monumental de Nuñez, diante de um River descaracterizado. E la Academia tinha tudo para vencer.
Explanarei levemente sobre o primeiro tempo, já que não o vi. Aos doze minutos, sabe-se lá como, Facundo Quiroga, contratado para ser xerife e dueño da grande área do River Plate, "definió con una pirueta como si en realidad fuese un delantero", disse o Olé. Costumo perder os gols de bicicleta. Golaço contra e festa na lotada tribuna destinada aos esperançosos apaixonados de Avellaneda. Além da vantagem, o Racing jogava mais e melhor.
Maxi Moralez, disparado o mais lúcido e técnico da equipe, já distribuía seus passes e arriscava as tradicionais arrancadas. Mas não tardou para Santiago Salcedo, paraguaio que chegou com uma banca tão grande quanto injustificável, empatar com um cabeceio certeiro. Bullota - isso nunca pode vir a ser nome de goleiro - nada pôde fazer. Faltava muito pouco para o fim dos primeiro quarenta e cinco, quando Moralez centrou a pelota na cabeça de Leandro González, que com espantosa tranquilidade achou o ângulo e derrubou o desesperado arqueiro Ojeda, devolvendo a vantagem aos visitantes.
Na volta do entretiempo, os azuis apareceram com uma expressão facial que demonstrava algo como "pelamordedeus, hoje temos que ganhar". Os cânticos da tribuna superior encorajavam. Hoje ganhariam, até eu pensei. O recomeço foi inseguro, a defesa assustava como vem sendo a realidade, Moralez dividia, armava e finalizava, sem aceitável companhia. No ataque, Pablo Caballero, mais transpirando do que inspirado, brigava com os beques pelo balão que teimava em queimar seu pé.
O River chegava menos, fato que levou Simeone a chamar Buonanotte do banco de suplentes (o River prioriza a Sul-Americana) para ilusionar algo maior. Instantes depois, em polêmica falta assinalada pelo parcial Pablo Lunati, um desvio na barreira iludiu Bullota, que só pôde impedir provisoriamente o tento de empate. No previsível rebote, Diego Buonanotte, que acabara de entrar, fuzilou-o sem piedade: 2-2.
Ainda não era o momento de desistir, isso ficou evidente após Franco Zuculini buscar a posse de bola com um carrinho de cabeça, injustamente sentenciado com um cartão amarelo. A chuva, que antes não passava de tímida garoa, se fortaleceu em Buenos Aires quando Caballero recebeu o esférico na grande área, dominando com grandiosa dificuldade. O giro foi lento e previsível, e o chute saiu mascado após desviar em um defensor que deslizava. Ojeda, perplexo, buscou uma atajada insuficiente. De tão feio, o terceiro gol do Racing até que pareceu bonito.
Justiça seja feita, Caballero melhorou após o golo, em jogada individual arrancou pela esquerda, acertou uma meia-lua e disparou um canhotaço que só não superou o arqueiro millionário. Poderia ter sido o definitivo 4-2. Porém, o destino não simpatiza com albicelestes. Atuando melhor, com disposição e suor encharcando a gloriosa camiseta, o Racing novamente não venceu. O River Plate, de atuação quase desinteressada, empatou tudo em 3-3 com Quiroga (redimiu-se, o ruim) após um escanteio bem cobrado.
Ao que parece, os do Monumental desistiram por completo do campeonato nacional, buscam a valiosa - tanto quanto a Lupi Martins - Sul-Americana. Já o Racing, terminado o campeonato hoje, novamente estaria fadado a promoción. Não há como não se decepcionar após clara oportunidade de vencer um clássico como visitante e reunir a confiança necessária para terminar o ano com dignidade. Desta vez, mais por azar (e alguma interferência externa) do que por debilidade técnica, o Racing Club não triunfou. Jogou como nunca e, como sempre, não venceu, como dizem os argentinos.
Um comentário:
o Olé também disse que "pelo mútuo esforço dos dois quadros, qualquer um mereceria a vitória".
enorme mentira.
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