Aquele era um jogo que precisávamos vencer. Uma semana antes, em Santa Cruz do Sul, o nosso fraco São Luiz havia levado 4-1 do ainda mais fraco Avenida, que então vencia pela primeira (e, posteriormente saberíamos, única) vez no Gauchão de 2000. Em 27 de fevereiro, abria-se o returno da primeira fase do estadual, com a tabela espelhada repetindo o confronto entre os dois, agora em Ijuí. Eles chegavam numa briga ferrenha para ver quem era o pior, sendo o Avenida lanterna do campeonato com apenas os três pontos conquistados sobre os ijuienses que, por seu turno, eram penúltimos tendo quatro unidades.
Cada time disputaria mais cinco jogos nas semanas seguintes àquela rodada, perspectiva insuficiente para mudar a concordância geral, que dizia: o confronto direto, só ele, seria o determinante do futuro rebaixado. Perder pontos ali era a morte. Sim, precisávamos vencer. Naquele domingo de decisão pela permanência, fui ao 19 de Outubro com meu pai e um amigo que nunca gostou muito de futebol, mas teve acessos de vidência: vai ser legal, eu vou com vocês porque vamos golear.
Goleamos. Nossa vibração veio com extrema facilidade, proporcionada pelo nível varzeano do adversário – um gol contra em bola lentamente atrasada para um goleiro desatento foi o auge. O São Luiz abriu 4-0 brincando. Cientes do destino da partida, os treinadores deram oportunidade para que os goleiros reservas jogassem um pouco. O do Avenida entrou numa cobrança de falta dos locais e, menos de um minuto em campo, já estava catando a bola do quinto gol nas redes de seu time – agora tu sabe pelo que o titular tava passando, gritavam uns gaiatos na social. O arqueiro suplente do São Luiz teve um tempo mais e também foi vazado, levando o único gol visitante no placar de 5-1 mantido até o final da tarde.
Saímos da Baixada sem dúvidas de que havíamos mandado à segunda divisão o quadro de Santa Cruz. Nas rodadas seguintes, tudo dentro do esperado: ruins, os dois times empataram duas vezes e perderam três, acabando o São Luiz em 6º lugar no grupo de sete equipes, com 9 pontos, e o Avenida em 7º, contando 5 e sendo rebaixado. Depois descobriríamos que a queda não viria: por um desses acontecimentos típicos da velha era do futebol brasileiro, o Avenida jogou a Segundona no mesmo ano, pegando uma das vagas que davam permanência na elite gaúcha em 2001 – temporada encerrada noutro rebaixamento, aí sim, para valer.
Mesmo que retardado, o rebaixamento do Avenida já fazia parte do nosso inconsciente desde 27 de fevereiro de 2000. Desde aqueles 5-1 do simbólico fechamento do caixão, o Avenida estava, para nós, lutando por um retorno ao meio dos grandes. Passou esses anos todos na briga, sofrendo nas agruras das intermináveis Segundonas Gaúchas. Até ontem. No sábado, ao vencer o São Paulo de Rio Grande por 3-0 na penúltima jornada do octogonal final, o alviverde de Santa Cruz confirmou na matemática seu acesso à primeira divisão do Estado para 2009. Deixou o favorito Pelotas por mais um ano na categoria inferior, e reestreará no Gauchão juntamente com o Ypiranga de Erechim, outro histórico, cujo retorno já havia sido garantido na rodada passada.
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