quinta-feira, 26 de junho de 2008

O mundo real

Os pífios resultados do Fluminense no Campeonato Brasileiro sempre foram vistos como casuais. A lanterna da competição seria abandonada assim que a seriedade voltasse. As sucessivas derrotas eram debitadas na conta dos reservas. Quando os titulares retornaram para disputar algumas rodadas de Série A e as vitórias continuaram ausentes, valia a justificativa da pouca motivação. O que interessava era a Libertadores, por ela se lutaria à morte. Classificações sobre São Paulo e Boca Juniors impediam o aflorar de dúvidas quanto a uma provável mudança radical de atitude no seguinte compromisso continental – até porque o próximo jogo pela América seria simplesmente a final.

Ontem, na Casa Blanca, foi a final. O reencontro com uma noite copeira depois de três semanas sem Libertadores. E o Fluminense que entrou em campo não era o que se esperava. Ao menos no primeiro tempo, vimos o Flu do Brasileirão. E o Flu do Brasileirão não tem capacidade para vencer time algum. Não poderia ser diferente contra a motivada Liga de Quito – esta sim atuando no nível que a fez atingir a decisão, talvez até acima.

O golaço de Conca aos 12 minutos, numa cobrança de falta, então empatando a partida, representou mera distração num longo período totalmente equatoriano. Os cariocas davam aula de como perder uma taça – e se candidatavam ao concurso de defesa mais bisonha dos últimos tempos. Bola na área era um perigo. Se não resultava em gol, dava em escanteio. E se dava em escanteio, resultava em gol. Não foi à toa que saíram quatro desses – os gols – apenas no primeiro tempo. O festim começou com menos de dois minutos de partida, no tento de Bieler, e continuou após o empate, com Guerrón (27’), Jairo Campos (33’) e Patrício Urrutia (45’) erguendo os “surreais” 4-1, na feliz definição de um infeliz locutor brasileiro.

A LDU dava razão ao lugar-comum de que não se chega ao sonho final da grande Copa por acaso. E golearia, fosse mantida aquela figura de partida. Mas o Flu também jogava a vida. Importante demais para sofrer placares surreais. Voltou dos vestiários diferente, deparou-se com um oponente já satisfeito e, através de Thiago Neves, logrou um importante desconto. O 4-2 sustenta a vida da disputa. Haverá jogo no Maracanã, e o tricolor das Laranjeiras segue ilusionando. Em uma semana, descobriremos como se dará seu retorno ao mundo real: na crise de acabar com as mãos vazias e se descobrir último colocado da liga nacional ou na insuperável glória de levar às suas vitrines a maior das taças.

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Se a realidade está em voga, conte-se também a tristeza do aurinegro uruguaio, ontem: o Peñarol empatou por 0-0 o segundo confronto definitivo da temporada 2007/08 do campeonato e deixou o título nacional com o Defensor (os violetas haviam vencido o primeiro duelo por 2-1). O dia em que narrações de inolvidáveis jornadas continentais – como a brilhantemente escrita pelo Iuri – deixarão de ser fictícias ainda está distante. Quem perde com esses tempos negros do carbonero é o futebol sul-americano.

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