domingo, 17 de fevereiro de 2008

No colo dos árbitros

ESCALDES-ENGORDANY - Está impregnado no inconsciente coletivo o pensamento de que, na Espanha, o Real Madrid é sempre o time favorecido pelas arbitragens. Pois bem, o inconsciente coletivo é burro. A Espanha não é diferente de outros países do mundo neste caso: arbitragens fracas costumam favorecer as equipes mais fortes - raríssimas vezes o Madrid não esteve entre os mais fortes, raríssimas vezes o Madrid não esteve no lado "preferido" da balança dos colegiados incapazes. Mas não há apenas o Real Madrid de grande no futebol espanhol, e aí reside o erro daquela velha idéia de favorecimento. Jogos como o do Barcelona, ontem, mostram bem como uma arbitragem tendenciosa pode fazer um resultado pender para o lado do "maior".

Acompanhei o jogo por La Sexta, canal espanhol que se orgulha de transmitir as principais partidas da Liga na TV aberta. Antes do Barça entrar em campo, o resultado que o interessava já fora decretado: em Sevilla, o Betis aplicara 2-1 no Madrid, deixando um caminho aberto para os azuis-grenás reduzirem sua desvantagem para o topo da tabela. Aos catalães ainda era necessário bater o Zaragoza, mas meia rodada já lhes sorria. Durante o jogo, duas interpretações pontuais e distintas da arbitragem, ambas favoráveis ao Barça, tratariam de deixar o sorriso completamente aberto.

A primeira delas viria aos 33 minutos, momento em que, dentro da área oponente, Henry recebeu um lançamento, dominou a bola com o braço - "peito", segundo o assistente -, e chutou para assinalar 0-1. Também num gol, ocorreria a segunda: 82 minutos de enfrentamento, 1-1 já figurando no placar após Ricardo Oliveira empatar meia hora antes, e vem outro cruzamento na área - desta vez, assim como o toque de mão de Henry fora convertido em domínio de peito, o ombro de Juanfran, do Zaragoza é visto como braço pelo assistente. Pênalti. Pênalti? Pênalti que Ronaldinho bateu para confirmar a vitória por 1-2.

Esquecidos o apitador e os bandeiras, o jogo foi encantador. Levemente dominado pelo Zaragoza, inclusive, que perdeu diversas oportunidades e deixou escapar a chance de mudar toda a história ao desperdiçar um pênalti (este claro, impossível de "não ser visto" pelo juiz) isolado por Diego Milito, no fim do primeiro tempo. Um confronto transformado em um turbilhão de emoções com os ataques e contra-ataques de lado a lado. Um confronto que a arbitragem marcou negativa e decisivamente. No colo dos juízes e à base dos tropeços madridistas, cada vez mais freqüentes, o Barça vai remontando uma Liga perdida. A diferença para o primeiro lugar, que um dia foi de nove pontos, já está em cinco.

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