O Tottenham, dono de vários títulos nacionais e alguns europeus, é um gigante histórico da Inglaterra. Um gigante caído que, ao longo da última década, esteve longe de honrar o passado glorioso. Campanhas apenas medianas, temporadas em que não se ousou querer mais do que uma vaga na Copa da UEFA foram uma mostra disso. Talvez o maior golpe sentido pelos torcedores, porém, tenha sido a ascensão do Chelsea após os milhões vindos da Rússia - o Tottenham, antes a maior força de Londres ao lado do Arsenal, acabou relegado a um plano inferior. E o clássico que fazia com os Gunners, outrora o maior da capital, marcado pelo equilíbrio, virou algo humilhante: até ontem, os Spurs contavam nove anos sem vencer os rivais.
Até ontem. Na terça-feira, os célebres adversários londrinos disputaram a partida de volta das semifinais da Copa da Liga Inglesa. No jogo de ida, um empate por 1-1 que deixou tudo em suspenso - ou nem tudo, já que um tabu de nove anos não se quebra assim no más, e os Gunners seguiam favoritos à conquista da vaga. Até ontem, numa história muito parecida com a do derby madrilenho, torcedores do Tottenham temiam encarar seu maior rival, contra quem não obtinham sucesso desde novembro de 1999. Mas isso, é claro, até ontem. Desde o século passado até ontem, a fanática torcida de White Hart Lane não vibrava tanto, não comemorava tantos goals, não se via tão grande. Ontem, em 90 minutos, toda a grandeza esquecida do Tottenham voltou a campo. E o Arsenal, o badalado Arsenal, foi pequeno.
5-1 era o que sinalizava o placar eletrônico do estádio abarrotado por 35.979 torcedores. Uma vitória construída nos pés de Jenas, craque da partida e autor do primeiro gol, aos 3 minutos. Uma vitória conseguida na falta de sorte de Bendtner, autor de um gol contra aos 27 minutos, evidenciando o mau dia que o Arsenal estava vivendo. Uma vitória, acima de tudo, conquistada na sempre questionada qualidade de uma equipe que figura na parte baixa da tabela, mas que foi tomada por um espírito incomum. Um espírito de quem passou uma década apequenado e, em um jogo, explodiu toda a raiva contida. O Tottenham, gigante, talvez não se lembre da última vez que se viu tão grande quanto na noite de ontem. 5-1 era o que o placar refletia nos olhos emocionados da torcida do Spurs. A torcida que, desde o terceiro gol, abanava para os Gunners, dando adeus, dizendo que era ela quem iria para a final. A torcida que, desde o quarto gol, assistia aos falastrões torcedores rivais saírem encolhidos, envergonhados, fugidos de um estádio convertido em inferno, no seu inferno.
Os sonoros 5-1 que classificaram o Tottenham à final da Copa da Liga, à primeira final do clube desde 2002, foram a crise de incontinência de uma fúria acumulada de novembro de 1999 até ontem. Será o Tottenham, na decisão, tão grande como foi ontem? Caso perguntados, os torcedores da equipe certamente responderiam com um famoso trecho da mais regravada música dos Beatles - "I believe in yesterday".
Nenhum comentário:
Postar um comentário