Hat-trick de bola parada: um dos feitos do lendário Paulinho
A luta dos clubes do interior para se manter não seria válida se, dentro de campo, não houvesse jogadores dispostos a suar sangue por suas equipes. Paulo Gaúcho é um entre tantos heróis que marcaram época no futebol interiorano.
Listar todas as equipes pelas quais Paulo Gaúcho passou é tarefa das mais difíceis. Autêntico atleta das efêmeras temporadas interioranas, saía de um clube para outro tão logo acabasse o campeonato do primeiro e começasse o torneio do segundo. Exímio cobrador de faltas, líder dentro e fora de campo, demonstrando seriedade, foi capaz de cativar os críticos e os torcedores em décadas de futebol. Quem for ao Google pesquisar o seu nome certamente encontrará menções elogiosas feitas por periódicos das cidades onde jogou, apontando-o como destaque do time que defendia à época da notícia. Mais do que isso, o pesquisador notará que suas atuações seguiam em alto nível "apesar dos seus quase 40 anos".
Sim, pois Paulo Gaúcho e o futebol, por longo tempo, foram uma coisa só, e os dois ainda não se conformaram com a separação definitiva. Não cabe aqui lembrar todas as páginas indeléveis que ele escreveu em cada rincão do Rio Grande, como a artilharia do Gauchão de 1994, pelo Ypiranga de Erechim. Enumerar cada parte dessa longa história daria tema para um livro inteiro – um bom livro, diga-se. A mim, porém, pensar em Paulo Gaúcho significa remontar aos primeiros contatos com o futebol e depois compará-los com a década posterior. Vamos primeiro a 1995, dirigindo-se ao estádio 19 de Outubro para acompanhar um jogo do São Luiz.
Os tempos eram, definitivamente, outros. Tempos em que os clubes interioranos podiam se manter com pouco dinheiro e tinham uma temporada razoavelmente longa para planejar seu futuro. Atualmente quase falido, o São Luiz também vivia uma era distinta, áurea, com um time que não apenas chegava entre os melhores do estado como conseguia disputar a Série C, uma inédita competição nacional na história do clube. Naquele ano, disposta a dar uma temporada histórica à comunidade e com condições para isso, a diretoria são-luizense foi capaz de trazer craques do interior para o clube local. Entre eles, Paulo Gaúcho. O homem das cobranças de falta perfeitas, com qualidade suficiente para fazer um raro hat-trick de bola parada numa tarde de inspiração plena. Ele talvez tenha sido o principal nome das memoráveis campanhas do time ijuiense naquele ano, que incluíram um quarto lugar no Gauchão - a melhor participação do São Luiz em todos os tempos.
Mas os anos passaram. Paulo Gaúcho seguiu sua peregrinação, rumo a outras plagas do estado, e o São Luiz foi decaindo. Dez temporadas depois, em 2004, quando os campeonatos estaduais já eram um estorvo, os clubes do interior, um a um, foram caminhando para o solo pantanoso das dívidas acumuladas, afundando junto com seus heróis. O São Luiz acabou na Segundona. Precisava e queria se reerguer e, para isso, não mediu esforços. Trouxe de volta Paulo Gaúcho. Com 41 anos nas costas, ele recebeu a incumbência de mostrar o caminho das vitórias aos seus inexperientes companheiros de time. Como que sem sentir os efeitos do tempo, Paulinho seguiu infalível nas cobranças de falta, carregando a equipe até a terceira fase. O clube não subiu naquele ano, mas a boa campanha serviu para acostumar o jovem time às durezas de uma Segundona. Foi a herança de Paulo Gaúcho para a equipe que, em 2005, sem sua presença, mas com suas lições, conquistou o sonhado acesso.
No 2005, o ídolo já havia optado por pendurar as chuteiras profissionalmente. Estava velho demais para um meia, cansado demais para as concentrações, e já havia feito o suficiente para a história - foi para o futebol amador. Mas viu que lá ainda não era o seu lugar. Neste 2007, resolveu tentar uma nova empreitada. Com 44 anos, o ídolo de sempre se ofereceu para jogar a próxima temporada no São Luiz. Acabou recusado. Até mesmo os heróis precisam de um ponto final. Se foi o fim mesmo, no entanto, não se sabe. O certo é que, no 19 de Outubro, a cada cobrança de falta perdida por um jogador local, algum torcedor lembra, saudoso: "daí, o Paulinho guardava".
Listar todas as equipes pelas quais Paulo Gaúcho passou é tarefa das mais difíceis. Autêntico atleta das efêmeras temporadas interioranas, saía de um clube para outro tão logo acabasse o campeonato do primeiro e começasse o torneio do segundo. Exímio cobrador de faltas, líder dentro e fora de campo, demonstrando seriedade, foi capaz de cativar os críticos e os torcedores em décadas de futebol. Quem for ao Google pesquisar o seu nome certamente encontrará menções elogiosas feitas por periódicos das cidades onde jogou, apontando-o como destaque do time que defendia à época da notícia. Mais do que isso, o pesquisador notará que suas atuações seguiam em alto nível "apesar dos seus quase 40 anos".
Sim, pois Paulo Gaúcho e o futebol, por longo tempo, foram uma coisa só, e os dois ainda não se conformaram com a separação definitiva. Não cabe aqui lembrar todas as páginas indeléveis que ele escreveu em cada rincão do Rio Grande, como a artilharia do Gauchão de 1994, pelo Ypiranga de Erechim. Enumerar cada parte dessa longa história daria tema para um livro inteiro – um bom livro, diga-se. A mim, porém, pensar em Paulo Gaúcho significa remontar aos primeiros contatos com o futebol e depois compará-los com a década posterior. Vamos primeiro a 1995, dirigindo-se ao estádio 19 de Outubro para acompanhar um jogo do São Luiz.
Os tempos eram, definitivamente, outros. Tempos em que os clubes interioranos podiam se manter com pouco dinheiro e tinham uma temporada razoavelmente longa para planejar seu futuro. Atualmente quase falido, o São Luiz também vivia uma era distinta, áurea, com um time que não apenas chegava entre os melhores do estado como conseguia disputar a Série C, uma inédita competição nacional na história do clube. Naquele ano, disposta a dar uma temporada histórica à comunidade e com condições para isso, a diretoria são-luizense foi capaz de trazer craques do interior para o clube local. Entre eles, Paulo Gaúcho. O homem das cobranças de falta perfeitas, com qualidade suficiente para fazer um raro hat-trick de bola parada numa tarde de inspiração plena. Ele talvez tenha sido o principal nome das memoráveis campanhas do time ijuiense naquele ano, que incluíram um quarto lugar no Gauchão - a melhor participação do São Luiz em todos os tempos.
Mas os anos passaram. Paulo Gaúcho seguiu sua peregrinação, rumo a outras plagas do estado, e o São Luiz foi decaindo. Dez temporadas depois, em 2004, quando os campeonatos estaduais já eram um estorvo, os clubes do interior, um a um, foram caminhando para o solo pantanoso das dívidas acumuladas, afundando junto com seus heróis. O São Luiz acabou na Segundona. Precisava e queria se reerguer e, para isso, não mediu esforços. Trouxe de volta Paulo Gaúcho. Com 41 anos nas costas, ele recebeu a incumbência de mostrar o caminho das vitórias aos seus inexperientes companheiros de time. Como que sem sentir os efeitos do tempo, Paulinho seguiu infalível nas cobranças de falta, carregando a equipe até a terceira fase. O clube não subiu naquele ano, mas a boa campanha serviu para acostumar o jovem time às durezas de uma Segundona. Foi a herança de Paulo Gaúcho para a equipe que, em 2005, sem sua presença, mas com suas lições, conquistou o sonhado acesso.
No 2005, o ídolo já havia optado por pendurar as chuteiras profissionalmente. Estava velho demais para um meia, cansado demais para as concentrações, e já havia feito o suficiente para a história - foi para o futebol amador. Mas viu que lá ainda não era o seu lugar. Neste 2007, resolveu tentar uma nova empreitada. Com 44 anos, o ídolo de sempre se ofereceu para jogar a próxima temporada no São Luiz. Acabou recusado. Até mesmo os heróis precisam de um ponto final. Se foi o fim mesmo, no entanto, não se sabe. O certo é que, no 19 de Outubro, a cada cobrança de falta perdida por um jogador local, algum torcedor lembra, saudoso: "daí, o Paulinho guardava".
Um comentário:
De Torres, numa casa de lã.
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