sábado, 8 de dezembro de 2007

Uerdingen 7-3 Dynamo Dresden

Ficha do jogo:
Recopa Européia 1985/86 - Quartas-de-final
19/03/1986
Grotenburg-Kampfbahn, Uerdingen
Bayer Uerdingen (ALE/OC) 7-3 Dynamo Dresden (ALE/OR)
Gols: 1' Minge (D); 13' Funkel (B); 36' Lippmann (D); 42' Bommer [contra] (D); 58' Funkel (B); 64' Gudmundsson (B); 67' Minge [contra] (B); 78' Klinger (B); 81' Funkel (B); 87' Schäfer (B)

Este é um daqueles confrontos que a história não quis lembrar. Um espetacular duelo entre equipes outrora grandes, de uma Alemanha então dividida, por uma competição que nem existe mais. Não foi só a lembrança dessa remontada que o tempo tratou de apagar, afinal...

O jogo valia pela extinta Recopa Européia, na temporada de 1985/86. Naquele torneio, não havia times pequenos: todos eram campeões, todos eram respeitáveis. Ali, entravam apenas os vencedores de suas respectivas copas nacionais, eliminando-se num mata-mata direto e sem frescuras. Venceria o mais copeiro - algo coerente para uma taça que também era chamada de "Copa das Copas". A Alemanha, que era então duas, entrava com um representante de cada lado da sua divisão. Os Ocidentais mandavam o Bayer Uerdingen, clube que vivia uma fase esplendorosa em função da pareceria com a empresa farmacêutica, e que havia derrotado o temível Bayern München na decisão de seu país. Os Orientais não ficavam atrás no que dizia respeito ao poder de seu time: eram representados pelo Dynamo Dresden, equipe que havia derrotado o poderosíssimo Dynamo Berlin na sua Copa - embora seja outro esquecido atualmente, o Dynamo da capital estava em meio a uma série de dez conquistas consecutivas da liga nacional.

Se a Recopa era um torneio de times respeitáveis, a dupla alemã figurava no primeiro escalão destes. Fortes, foram superando as eliminatórias iniciais até chegar ao esperado confronto direto. Que fosse uma disputa dentro do campo de futebol, sempre era a chance de comparar a força das antagônicas metades germânicas. Para aquele ano, o confronto estava traçado: uma disputa épica valendo vaga nas semifinais. No primeiro jogo, em Dresden, um comum 2-0 em favor dos locais deixava o Dynamo em importante e larga vantagem para o confronto de volta, caso a normalidade e o equilíbrio fossem mantidos.

Mas não seria um jogo normal, o de Uerdingen. Para o Bayer, conseguir a classificação pela diferença mínima necessária (um 3-0) já se configuraria em remontada para ser lembrada ao longo dos tempos. Os 20 mil ingressos postos à venda se esgotaram rapidamente, adquiridos por torcedores com esse pensamento. Eles só não imaginavam o quão ingênuo era pensar que o tal 3-0 seria a maior mostra de recuperação que o time poderia dar.

Veio o jogo do 19 de março. Desastrosamente, as esperanças de reverter o resultado construídas pelos torcedores ocidentais estavam sendo desmanchadas. No primeiro minuto de jogo, Minge pôs os visitantes na liderança do marcador, por 0-1. Ao final da metade inicial, com direito a gol contra, o Uerdingen já estava sendo derrotado por 1-3. Naquele jogo, porque no agregado as coisas pioravam, indo a 1-5. Seriam necessários incríveis cinco gols em 45 minutos para obter a vaga. Pois o Bayer fez seis.

Com o apito inicial do árbitro para a etapa complementar, começou aquela que talvez seja a maior remontada feita por uma equipe em um único período de jogo. Os gols, "inalcançáveis", tardaram, mas começaram a se empilhar: o primeiro da reação veio com Funkel, aos treze do segundo tempo - era seu segundo tento na partida. Gudmundsson empataria e, ironicamente, as esperanças voltariam de vez por obra daquele que parecia tê-las sepultado no início do jogo: Minge, o mesmo do gol no primeiro minuto, virava o jogo para o Bayer, estufando as próprias redes aos 67. Atordoado, o time da Alemanha Oriental nada mais pôde fazer. Klinger fez 5-3, enquanto Funkel, fechando um hat-trick, converteu, de pênalti, o gol da classificação, aos 81 minutos. A bola encontraria as redes ainda mais uma vez, apenas para confirmar o resultado.

O Bayer, incrivelmente, estava qualificado. Depois de ser derrotado em três quartos da "eliminatória de 180 minutos". Nas semifinais, o time acabou eliminado pelo Atlético de Madrid. Não importava, o feito já estava na história.

***

Infelizmente, a história daquele 19 de março se desfez em pouco mais de duas décadas. O tempo que fez a Alemanha se reunificar - e evidenciar o atraso do lado Oriental - também serviu para tragar os dois times e suas glórias. Como tantos outros clubes do lado comunista, o Dynamo Dresden acabou se mostrando incapaz de se sustentar em alto nível; hoje, disputa a terceira divisão nacional. Como tantos outros clubes do lado capitalista, o Uerdingen mostrou que não tinha força para se manter sem patrocínio. Depois que a pareceria com a Bayer cessou, o clube só decaiu. Hoje, o KFC Uerdingen joga a quarta divisão da Alemanha.

Um comentário:

Maurício Brum disse...

Vale destacar o curioso caso de Frank Lippmann após o jogo: "traidor" do Dynamo, ele acabou ficando no lado Ocidental, seduzido pelas propostas dos clubes dali. Na temporada 1986/87, jogou a Bundesliga da Alemanha Ocidental pelo Nürnberg.