Quarta-feira, 26 de maio de 1999. Eram mais ou menos 4 da tarde. O que um adolescente de 13 anos faria numa tarde, véspera de provas? Lógico, iria parar para assistir a TVE, e ver a final da Champions League.
Entram em campo naquele dia o Bayern de Kahn, Jancker e, principalmente, Matthäus. No outro lado, o Manchester United, com Giggs, Beckham e Schmeichel, que fazia sua despedida do futebol. Minha preferência naquele dia era para os alemães, pois eu era fã de Matthäus.
Começa o jogo no Camp Nou. O Bayern, que havia eliminado a surpresa Dynamo de Kiev (ano em que seu jogador, Shevchenko, destruiu o Real Madrid), ia ao ataque. 6 minutos: Basler se prepara para bater falta. Schmeichel arruma bem a barreira, formada por seis homens; seu lado direito está bem protegido mas, ainda não contente, o goleiro tenta adivinhar o canto: dá dois passos para trás da barragem. Basler aproveita e bate no canto do arqueiro. Gol do Bayern. Surpreendente, pois os favoritos eram os ingleses, que haviam batido a Juventus na fase anterior.
Munique vibrava como nunca. Manchester temia perder o título. De um lado, Kahn, frio, não esboçou reação ao gol. Do outro, Schmeichel ficou furioso com a barreira. O time germânico ainda perdeu a chance de matar o jogo - em um cruzamento para a área, Carsten Jancker, 1,93 metro de altura, dá uma linda bicicleta. Os deuses do futebol, porém, não queriam mesmo a vitória alemã, e a bola bate no travessão e sai. No final do primeiro tempo, com o Bayern controlando o Manchester, tudo parece ir bem para o time vestido de prata.
Vem a etapa final e o Bayern segura bem o jogo, enquanto Ferguson resolve atacar. Ele tira o ala esquerdo Blomqvist e coloca Sheringham. Quinze minutos depois, entra Solskjaer no lugar de Cole. Marquem bem os nomes que entraram, nessa ordem.
Hitzfeld, por sua vez, recua o time. Tira o atacante Zickler e coloca o volante Scholl. Aos 80 minutos, vem a mudança que, na minha opinião, tirou o título de Munique: entra Finck, e sai Matthäus. Já no final da partida, vem a terceira substituição, apenas para fazer cera, com a entrada de Salihamidzic no lugar de Basler, o autor do gol.
São 90 minutos e o quarto árbitro ergue a placa. Serão três minutos a mais para que comece a festa na Alemanha. O Manchester aperta na marcação, o Bayern erra na saída, e Effenberg é forçado a ceder escanteio. Schmeichel, que não queria encerrar a carreira como vice, vai para a área, tentar o empate. Beckham cruza, Giggs chuta mal e a bola parece ir para fora - porém, encontra Sheringham, desviando para o gol.
Alex Ferguson delira de felicidade. Matthäus fica incrédulo, e todos se preparam para a prorrogação. O Bayern sai louco para o ataque, perde a bola. Passaram-se apenas 50 segundos do empate. Solskjaer parte para cima de Kuffour, e novo escanteio. Sem o desespero do minuto anterior, Beckham bate o canto. Lembram dos dois que entraram ao longo do jogo nos diabos vermelhos? Sheringham desvia no primeiro pau, Solskjaer, com o bico da chuteira, encosta na bola. Gol.
Sim, os ingleses viraram o jogo. Linke fica desolado na pequena área. Schmeichel agora dá cambalhotas em frente à sua goleira. A torcida enlouquece no Camp Nou. O camisa 20 do United faz apenas seu segundo gol na Champions - mas é o mais importante da competição. Kuffour lamenta ter cedido o corner, ao mesmo tempo em que Kahn, numa rara demonstração de sentimento, ajoelha-se no gramado. No banco, Matthäus finge estar sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo. A bola rola por mais alguns segundos. Não importa, o Manchester é campeão. A torcida alemã senta e pensa: por que existem acréscimos? Os ingleses não pensam, apenas festejam e bebem.
Como foi possível um time dominado na maior parte do tempo virar o jogo em apenas um minuto e meio? Um prêmio para uma equipe que acreditou até o último segundo. E um prêmio maior para o goleiro Schmeichel, que encerrou a carreira de forma brilhante, erguendo a taça européia. O Camp Nou já vira Romário e Ronaldo fazendo golaços, Maradona sendo mágico, e outras genialidades de craques com a camisa do Barcelona. Mas nunca havia visto um jogo desses - protagonizado por dois times que haviam eliminado o próprio Barça na primeira fase. Um jogo que jamais esquecerei.
Um comentário:
Ficha do Jogo
26/05/1999- Camp Nou, Barcelona (90.000 pessoas)
Manchester United 2-1 Bayern München
6' Basler (B) 0-1
90+1' Sheringham (M) 1-1
90+3' Solskjaer (M) 2-1
Árbitro: Pierluigi Collina (ITA).
Cartão amarelo: Effenberg (Bayern).
Escalação do Manchester:
1- Peter Schmeichel; 2- Gary Neville, 5- Ronny Johnsen, 6- Jaap Stam, 3- Denis Irwin, 7- David Beckham, 8- Nicky Butt, 11- Ryan Giggs, 15- Jesper Blomqvist (10- Teddy Sheringham, min. 67), 19- Dwight Yorke, 9- Andy Cole (20- Ole Gunnar Solskjaer, min. 81). T: Alex Ferguson.
Escalação do Bayern:
1- Oliver Kahn; 10- Lothar Matthäus (17- Thorsten Fink, min. 80), 2- Markus Babbel, 25- Thomas Linke, 4- Samuel Osei Kuffour, 18- Michael Tarnat, 11- Stefan Effenberg, 16- Jens Jeremies, 14- Mario Basler (20- Hasan Salihamidzic, min. 89), 19- Carsten Jancker, 21- Alexander Zickler (7- Mehmet Scholl, min. 71). T: Ottmar Hitzfeld.
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