Foram duas semanas de utopia. Ou deveriam ter sido. Sede dos XV Jogos Pan-Americanos, o Rio de Janeiro - e o Brasil, por extensão - precisou encontrar alguma maneira de se mascarar aos olhos do mundo. Tornou-se necessário dar novas cores à antiga pintura de "cidade maravilhosa" e, ao menos por quatorze dias, inibir o caos.
Com forças de segurança tomando as ruas numa proporção gigantesca - e inimaginável, se o objetivo fosse "apenas" proteger os cidadãos -, o Rio foi construindo sua farsa. Os dias cariocas de rara calmaria que se viram a seguir mostraram bem a distinção entre o nosso Brasil, e o Brazil construído para estrangeiro ver.
O Brazil mostrava a todos instalações esportivas moderníssimas, a nível de primeiro mundo e capazes de receber as mais variadas competições, sem motivos para queixas dos atletas estrangeiros. O Brasil arcava com os custos dessa brincadeira: um valor que extrapolou em 800% o orçamento inicial dos Jogos, além de obras que, se podem impulsionar o esporte nacional, também têm altas chances de se verem sucateadas em pouco tempo, convertidas em elefantes brancos sugadores de verbas para manutenção.
O Brazil orgulhou-se de seus mais de 15 mil voluntários, onipresentes, e sem os quais nada seria possível. O Brasil, embora tenha reconhecido o esforço desses milhares de abnegados, também viu retratos muito seus: voluntários que abandonavam suas funções, vendendo por alguns punhados de dólares seus uniformes como souvenirs e deixando inacabadas as tarefas para as quais haviam sido designados.
O Brazil ria-se de Cuba, com atletas que desertavam de sua delegação - "fugindo de um regime ditatorial", como se falou. O Brasil, por sua vez, quase não tomou conhecimento de casos encobertos como o do chargista Carlos Latuff, intimado por policiais a depor após publicar ilustrações críticas sobre o Pan, em discretas rasteiras antidemocráticas.
O Brazil vibrou com seu recorde de mais de meia centena de medalhas de ouro, e outras tantas de prata e bronze, fruto de "grandes investimentos no esporte". O Brasil viu que seus atletas, em considerável parcela, eram lutadores que chegaram tão longe apenas por dedicação e motivação própria - como Diogo Silva, do taekwondo -, pois se precisassem de real apoio financeiro ou estrutura para desenvolver suas aptidões, jamais venceriam.
O Brazil, enfim, tinha uma vitrine bela, segura e que alcançou o seu objetivo no intuito de parecer melhor que a realidade aos olhos de fora. O Brasil, no entanto, ainda teve tempo de chorar pelas vítimas do vôo 3054 da TAM, página mais marcante até aqui de um caos aéreo que dura há quase um ano, e que também se tentara esconder por estes dias.
Pois bem, os Jogos Pan-Americanos acabaram. O Brazil de tantas glórias falsas se vai com eles. E o Brasil, realmente ganhou algo?
Com forças de segurança tomando as ruas numa proporção gigantesca - e inimaginável, se o objetivo fosse "apenas" proteger os cidadãos -, o Rio foi construindo sua farsa. Os dias cariocas de rara calmaria que se viram a seguir mostraram bem a distinção entre o nosso Brasil, e o Brazil construído para estrangeiro ver.
O Brazil mostrava a todos instalações esportivas moderníssimas, a nível de primeiro mundo e capazes de receber as mais variadas competições, sem motivos para queixas dos atletas estrangeiros. O Brasil arcava com os custos dessa brincadeira: um valor que extrapolou em 800% o orçamento inicial dos Jogos, além de obras que, se podem impulsionar o esporte nacional, também têm altas chances de se verem sucateadas em pouco tempo, convertidas em elefantes brancos sugadores de verbas para manutenção.
O Brazil orgulhou-se de seus mais de 15 mil voluntários, onipresentes, e sem os quais nada seria possível. O Brasil, embora tenha reconhecido o esforço desses milhares de abnegados, também viu retratos muito seus: voluntários que abandonavam suas funções, vendendo por alguns punhados de dólares seus uniformes como souvenirs e deixando inacabadas as tarefas para as quais haviam sido designados.
O Brazil ria-se de Cuba, com atletas que desertavam de sua delegação - "fugindo de um regime ditatorial", como se falou. O Brasil, por sua vez, quase não tomou conhecimento de casos encobertos como o do chargista Carlos Latuff, intimado por policiais a depor após publicar ilustrações críticas sobre o Pan, em discretas rasteiras antidemocráticas.
O Brazil vibrou com seu recorde de mais de meia centena de medalhas de ouro, e outras tantas de prata e bronze, fruto de "grandes investimentos no esporte". O Brasil viu que seus atletas, em considerável parcela, eram lutadores que chegaram tão longe apenas por dedicação e motivação própria - como Diogo Silva, do taekwondo -, pois se precisassem de real apoio financeiro ou estrutura para desenvolver suas aptidões, jamais venceriam.
O Brazil, enfim, tinha uma vitrine bela, segura e que alcançou o seu objetivo no intuito de parecer melhor que a realidade aos olhos de fora. O Brasil, no entanto, ainda teve tempo de chorar pelas vítimas do vôo 3054 da TAM, página mais marcante até aqui de um caos aéreo que dura há quase um ano, e que também se tentara esconder por estes dias.
Pois bem, os Jogos Pan-Americanos acabaram. O Brazil de tantas glórias falsas se vai com eles. E o Brasil, realmente ganhou algo?
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