Era tarde no dia 17 de julho de 1916. No campo do Racing Club, em Avellaneda, na Argentina, o selecionado da nação local e o Uruguai adentravam no gramado para definir o vencedor do primeiro Campeonato Sul-Americano de Seleções oficial.
No dia anterior, viu-se a aurora das grandes mostras da rivalidades que marcariam as disputas posteriores do título continental: o jogo, então agendado para o campo do clube de Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires, não passou de 5 minutos com bola rolando, sendo imediatamente suspenso após incidentes envolvendo o público - fato que causou sua transferência para Avellaneda.
Diante de 17 mil argentinos - então a lotação máxima das arquibancadas que cercavam o gramado -, o Uruguai foi valente. Com grandes intervenções do goleiro Saporiti, além de uma segura atuação da dupla defensiva formada por Benincasa e Foglino, os celestes contiveram o ímpeto do onze local. Sem encontrar soluções, os argentinos se impacientavam, e acertavam ainda menos. O tempo passava rapidamente, aos olhos da torcida de Avellaneda. Fecharam-se os 90 minutos daquela decisão, e o árbitro chileno Carlos Fanta deu o apito final. Sob um gramado já endurecido pelo frio invernal, os uruguaios vibravam e congratulavam-se pela vitória por 0-0.
Sim, vitória, pois o jogo daquele dia 17 nada mais era do que a última rodada de um quadrangular, formado pelas duas seleções já citadas, mais Chile e Brasil - estes últimos, meros figurantes naquele torneio. Invicto, o Uruguai chegava aos 5 pontos (2 vitórias e 1 empate), contra 4 da Argentina vice-campeã (1 vitória e 2 empates), e erguia o primeiro troféu sul-americano de todos os tempos.
Era o fim da edição número um do torneio, e apenas o primeiro capítulo de um livro que se abria, com várias páginas em branco, esperando para serem preenchidas. Nos anos que se sucederam, o Campeonato Sul-Americano de Seleções cresceu, passou a abranger equipes das três américas, tornando-se a Copa América atual. Depois de 1916, as disputas prosseguiram, somando hoje 41 competições realizadas, muitas sem intervalo de tempo regular, com Uruguai e Argentina tendo levantado 14 troféus cada, seguidos pelo Brasil, com 7 taças, Paraguai e Peru, 2 cada, mais Bolívia e Colômbia, com 1.
Embora tenha vivido momentos de subvalorização, a competição, que é a mais antiga entre seleções ainda em disputa no mundo, jamais perdeu sua glória. No Brasil, o sentimento ocorre em menor escala do que no resto da América, por um imperdoável descaso. Mas, mesmo com menos ardor verde e amarelo, pode-se afirmar por regra geral que ninguém, em canto algum do continente, ousa entrar na disputa sem a disposição de vencer.
Nesta terça-feira começa, na Venezuela, muito mais que mais um torneio entre seleções: inicia-se a disputa por um troféu cheio de histórias, uma taça que merece toda a luta para ser conquistada. Será uma guerra para definir sob a bênção de qual bandeira se escreverá o 42º capítulo deste livro.
Um comentário:
intiresno muito, obrigado
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