domingo, 8 de abril de 2007

Crise dos uruguaios: o lado aurinegro

Se o Nacional, de Montevideo, vem aos poucos recuperando seu passado de glórias, o mesmo não pode-se dizer do seu grande rival, que a exemplo do tricolor uruguaio, é um dos clubes mais vitoriosos do mundo: o Peñarol. Fundado em 28 de setembro de 1891, sob o nome de C.U.R.C.C. (Central Uruguay Railway Cricket Club), o Peñarol é o segundo clube mais antigo da República Oriental (o clube Albion fora fundado em 1º de junho, do mesmo ano). Sua denominação atual, Club Atlético Peñarol, foi adotada oficialmente em 1914.

Desde os tempos amadores da C.U.R.C.C., o Peñarol foi uma equipe temida dentro e fora de seu território nacional. Ao longo das décadas, o clube foi acumulando um invejável histórico, empilhando troféus das mais variadas categorias. É dono de 47 Campeonatos Uruguaios, 12 Liguillas (torneios classificatórios à Libertadores), 5 Libertadores da América e 3 Mundiais de Clubes - além de mais de uma centena de torneios nacionais e internacionais não oficiais. Também é o clube que esteve presente em mais edições da Libertadores (37) e que mais jogou pela competição sul-americana (303 partidas). Com tudo isso, não chega a ser surpresa que o Peñarol seja primeiro colocado no ranking de todos os tempos da CONMEBOL e que tenha sido eleito um dos 10 maiores clubes do Século XX, pela FIFA.
Nas décadas contemporâneas ao surgimento da Libertadores, as lendas aurinegras iam se formando. Durante os anos 1950 e 1960, o equatoriano Spencer convertia-se no grande craque do clube, ao mesmo tempo que o Peñarol construía sua fama internacional. Inesquecíveis foram os confrontos de Mundial entre o Peñarol de Spencer e o Real Madrid de Di Stéfano, onde os espanhóis sagraram-se campeões em 1960, e os uruguaios deram o troco em 1966 - entre 1960 e 1970, o Peñarol chegou à final de seis Copas Libertadores, sagrando-se campeão em três ocasiões: 1960, 1961 e 1966. Nos anos 1980, novamente a força aurinegra apareceu, cristalizada na imagem de Fernando Morena, o maior goleador da história do futebol uruguaio. Os anos 1980 viveram também o auge da rivalidade entre o Peñarol de Morena e o Nacional de Hugo De León - o Peñarol levantou a Libertadores da América em 1982 e 1987, enquanto o Nacional foi campeão em 1980 e 1988. De León, entretanto, levou vantagem sobre os aurinegros: jogando pelo Grêmio, de Porto Alegre, foi campeão da América em 1983, diante do próprio Peñarol, clube que sempre odiou. Enfim, estes são lembrados até hoje como os anos de ouro desta sangüínea rivalidade.

Mas então veio a década de 1990, e com ela, a crise no futebol uruguaio. Vieram os investidores europeus sem piedade para levar as já escassas revelações do pequeno país, vieram as quebras de alianças com empresários, vieram as dívidas e veio o crescimento de pequenos clubes uruguaios no cenário nacional. Desencadeou-se uma brutal decadência de Nacional e Peñarol e, se no Campeonato Uruguaio as glórias ainda vinham, apesar de custosas, na Libertadores da América, os dois times não assustavam mais ninguém. O Peñarol conquistou um penta-campeonato nacional entre 1993 e 1997, iludindo seus torcedores, que acreditavam que as coisas iam bem, quando na verdade elas estavam desastrosas. Desprestigiado com empresários, o Peñarol começa a perder jogadores para clubes menores do Uruguai, como Fénix, Danubio e Defensor e vê as coisas piorarem cada vez mais. Presa fácil para os adversários, o Peñarol ingressa no Século XXI com uma mediocridade jamais vista em sua história: em suas três últimas participações em Libertadores até aqui, em 2003, 2004 e 2005, acaba, respectivamente, na 22ª, 21ª e 33ª colocações.

Enquanto seu rival, o Nacional, vem se recuperando, lentamente, mas a olhos vistos, o Peñarol patina na sua crise que parece não ter fim. No final de 2006, surge o fio de esperança no qual os torcedores do aurinegro se agarram com todas as forças atualmente: o grupo de investimentos FICUS Capital vai assumirá as finanças do clube - em troca, os investidores receberiam 17% da receita do clube, pelos próximos 2 anos. O plano de reestruturação inclui cinco pontos principais: imagem e comunicação (a criação da marca "Peñarol" para a venda de produtos especiais e personalizados, além de novas relações com a imprensa, através da criação de um site oficial mais amplo), aumento no número de sócios (campanha incentivando a associação e a criação de diferentes categorias de sócios, com vantagens específicas), criação de vantagens comerciais (semelhante ao que ocorre na Europa: a criação de um "cartão de crédito Peñarol", podendo ser usado pelos sócios nas lojas de empresas patrocinadoras do clube), merchandising (que se relaciona com pontos anteriores) e um estádio próprio (há duas possibilidades: reformar um campo antigo, que seria comprado pelo clube, ou construir um novo projeto do zero).

Esta luz no fim do túnel, porém, é algo distante. Tudo não passa de projeto e, se as idéias são boas, pô-las em prática é um desafio. Mas o Peñarol sempre esteve acostumado a superar metas tidas como "insuperáveis" - vencer mais esta, pode significar o retorno de um grande Peñarol.

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