O naufrágio do América Mineiro

A terceira força de Minas Gerais, e um dos mais tradicionais clubes do futebol brasileiro está vivendo uma decadência terrível.

Fundado em 30 de abril de 1912, o América desde cedo ocupou um lugar de destaque no futebol de seu estado. No Campeonato Mineiro, seu decacampeonato (os dez títulos em seqüência, conquistados entre 1916 e 1925) veio logo após a fundação do clube e é até hoje um recorde histórico e jamais repetido. Com tantas credenciais logo de início, e mantendo a força nas décadas seguintes, por muito tempo o América brigou com o Atlético Mineiro pelo posto de principal força de Minas Gerais. Aos poucos, o Palestra Itália (atual Cruzeiro), foi crescendo e rivalizando com ambos, até que na década de 1960, com a geração iluminada de Tostão, veio a ficar inquestionavelmente como o maior rival do Atlético, relegando o América a um incômodo terceiro lugar estadual.

Mesmo assim, o "coelho" (como é chamado, devido ao seu mascote), seguiu forte, sempre brigando por títulos estaduais e constituindo uma fiel e fanática torcida. Tradicionalíssimo, o América esteve entre os 20 clubes que disputaram o primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol, no já distante ano de 1971. Nas décadas posteriores, a força estadual foi mantida, mas nacionalmente, o time de Belo Horizonte começou a oscilar entre as divisões. Campeão Mineiro em 1971, o América teria que amargar até 1993 para poder voltar a erguer o troféu estadual. A década de 1990 foi de mais oscilação: rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro em 1993, o América voltaria à elite como campeão da 2ª divisão em 1997 - para ser rebaixado novamente em 1998.

Com a confusa Copa João Havelange, o América volta ao topo do futebol nacional em 2000. O início dos anos 2000 também marca o último suspiro do clube como uma força respeitável: o time conquista o a Copa Sul-Minas em 2000 e o Campeonato Mineiro em 2001. Após o grande primeiro semestre, 2001 mostra-se um ano ruim, e é ali que começa a queda livre do coelho: com uma campanha medíocre, o time acaba na 26ª posição (entre 28 times) do Campeonato Brasileiro, sendo outra vez rebaixado. A decadência continua e, após temporadas sem sucesso na Série B do Campeonato Brasileiro, o América atinge o que parece ser o fundo do poço: a Série C, ao ser rebaixado em 2004. Desde 2005 na Série C, o América não consegue chegar às fases finais da competição, ficando cada vez mais distante de algum retorno à elite do futebol nacional. Além disso, a sucessão de fracassos fez a torcida americana minguar cada vez mais, resumindo-se a alguns torcedores mais antigos e uns poucos fanáticos que ainda apóiam o clube.

Apesar do desastre pelas competições nacionais, o coelho vinha se mantendo com certa imponência no cenário estadual, sempre chegando aos play-offs decisivos do Campeonato Mineiro. Em 2007, isso virou passado. Tendo disputado até agora 9 jogos pelo estadual, o América venceu apenas 1, empatou 1 e perdeu 7 jogos. Além disso, tem a pior defesa do campeonato, com 16 gols sofridos. O time é o lanterna do Campeonato Mineiro, e faltando duas rodadas para o fim da competição, está a 5 pontos do primeiro time fora do rebaixamento (no momento, a Caldense) - só uma combinação espetacular de resultados salvaria o América do descenso. A queda do time à segunda divisão estadual é um fato dado como consumado por qualquer mineiro e ninguém mais crê no Ameriquinha.

Condenado à segunda divisão mineira, o América também terá sua vaga na Série C do Campeonato Brasileiro dificultada para as próximas temporadas. Sem torcida, sem dinheiro e disputando campeonatos cada vez menos visados, o América, que já revelou tantos craques do futebol brasileiro, parece ter entrado num caminho sem volta rumo à mediocridade - ou pior, à extinção.