Tudo começou com uma explosão. Aí vieram os quarks, os átomos e a poeira cósmica. Surgiram moléculas e sóis. E planetas. Havia água num desses planetas, parece. Então apareceram umas coisas flutuantes, umas amebas. Daquela grande sopa de cinzas, seres unicelulares e lava, foram aparecendo coisas cada vez maiores, até que a natureza cansou da megalomania, dizimou toda uma linhagem de répteis e resolveu parar com as obras faraônicas. Criaturas menores voltaram a ter vez. Quadrúpedes. Bípedes. Embrulhos de penas com asas nas pontas. Numa manhã chuvosa, entre samambaias e serpentes, brotaram os primeiros ovos dos primeiros humanos.
Qual as amebas primordiais, eles se apoderaram de cada canto do mundo - onde pudessem encontrar terra, formigas, pasto ou qualquer coisa minimamente atrativa para o estômago. Uns ficaram na África. Outros caminharam na direção da Ásia. Daqueles que suportaram o frio, parte cruzou o gelo e foi parar na estranha América do Norte. Os demais se contentaram em ocupar a península europeia. Também havia os mais ardilosos, capazes de montar botes feitos com CASCAS DE NOZ e oferecer aos desafetos, apontando para o mar e grunhindo que lá se encontrariam palmitos sem fim. Quem sobreviveu não voltou com palmeiras nem coqueiros, mas povoou as ilhotas salpicadas no Oceano Pacífico.
Os pioneiros norte-americanos, por sua vez, vieram baixando. Empurrados pelo tédio, pelas ABELHAS e por uma inquietude que lhes dizia que haviam perdido alguma coisa (um resquício inscrito nos genes e manifestado cada vez que o homem contemporâneo médio refaz um caminho na certeza de que esqueceu algo), eles desceram no mapa ainda não desenhado. Fizeram umas badernas na finura centro-americana, expurgaram meia dúzia para o Caribe, e continuaram a viagem até a América do Sul. O passar das eras mudou cores de peles, formatos de olhos, criou ideologias e culturas distintas, mas em todos os cantos as guerras estouravam e eram concluídas com a vitória dos mais aptos a lutar, forçar os músculos e arrancar suor do fundo das entranhas, nem que para isso fossem abertas as artérias e viessem junto uns LITROS de sangue.
Milhões de anos depois, a humanidade inventou o esporte. Que nada mais é do que a barbárie civilizada. O esporte, o futebol, não podem ter a pretensão de serem nobres. Podem ter momentos de beleza, mas jamais serão artísticos. Mesmo o drible mais bailarino foi parido para buscar o gol – e o gol rende a vitória na guerra travada dentro de cada cancha. Se o lance não foi pensado nesse intuito, é válido desferir machadadas no pescoço alheio, tesourear as pernas adversárias e cravar forcados nas costas de quem se fresqueia. E se foi, também é válido, porque os defensores contribuem para o triunfo ao evitar que a busca inimiga pelo gol FLORESÇA. Chama-se raça. Cruzando a fronteira, chama-se huevo.
“Huevo!”, ribombava pelas esquinas do ginásio santa-mariense cada vez que o time vestido de celeste se reunia no seu pedaço de quadra. Não eram espartanos invadindo a Região Central do Rio Grande. Eram dois paulistas, um deles de ascendência africana e com passagens pelo ACRE, um italiano de Campinas do Sul, um bagual do Alegrete, um dito uruguaio de Tacuarembó que é desmentido por certidões que apontam Santa Maria como a cidade natal, um ibirubense desgarrado e um francês de nascimento, que prefere a Espanha mas tem certeza que é gaúcho e ijuiense. Era um time de nome estranho, exposto a uma situação crítica e compensando na alma o que as pernas não conseguiam fazer. Era o Coió FC, que apesar das muitas alternativas só tinha, na realidade, cinco atletas em condições de jogo.
No primeiro dia, Mathias Rodrigues (goleiro), Luiz Valério Seles, Guilherme Porto, Yuri Lima e Maurício Brum. No segundo, um Porto de pernas destruídas perigou deixar a equipe com dez (ou QUATRO, já que era salão), mas o campinense Gabriel Eduardo Bortulini tomou o primeiro BONDE desde a longínqua Rivera onde estava e conseguiu completar a escalação. Ainda assim, tratava-se do único time sem reservas na segunda edição de 2009 (Clausura) do Torneio Aberto Misto Para Alunos da Comunicação Social, o TAMPACS. Por isso, huevo. Ou variações pleonásticas como cojones e bagos. O Coió tinha um goleiro que vestia óculos e touca de mergulho, um capitão que trajou SUSPENSÓRIOS na estreia e até um vivente de GUAIACA e lenço.
O time entrava em quadra unido, de mãos dadas como a Seleção Brasileira de 1994 (a mais pragmática de todas as Seleções Brasileiras), e saudava as arquibancadas tomadas de aficionadas e adversários. Depois, ia para o outro lado da cancha e repetia o gesto para os degraus vazios, em honra aos ESPÍRITOS. Aquecia com uma bola de futebol americano, tentando encaçapá-la na cesta de basquete. O público sentiu que ali estava uma equipe destemida e os neutros passaram a vibrar pela camisa celeste-grafitada – adquirida num desespero para se ter fardamentos iguais e baratos, ainda no tempo do Apertura, e numerada a CANETA. O Coió tornou-se um Ameriquinha do Rio ou um Nacional Querido do Paraguai, ganhando um espaço secundário nos corações de todo um povo.
Por aquele punhado de jogos, a equipe precisou deixar de lado cervejas, cigarros e moças vestidas de colegial. E pelejou com a gana de quem conhece o quanto foi MARTIRIZADA para estar ali. Meu gol no segundo jogo teve a essência do persistir. Uma pelota brigada do início ao fim, o arqueiro (embriagado) espalmando sempre, eu caído, cabeceando, chutando no travessão, pegando a sobra, acertando o zagueiro, e pateando o novo rebote para as redes, com um defensor desesperado atirando-se para tentar salvar o gol COM A MÃO. Plasticamente, o tento mais feio possível. Animicamente, o melhor da história dos esportes com bola e goleiras. Todas as pelotas não dominadas, os passes errados, os carrinhos não dados e as derrotas, foram redimidas naquele gol.
O Coió estreou contra o tricampeão do TAMPACS, o São Caetano Peruzzolo, e caiu por 2 a 1 com muito huevo. Na segunda rodada, uma arbitragem que concedeu três gols irregulares ao Galo Cinza do Topete Vermelho ocasionou a imoralidade de um despudorado 7 a 4 a favor da equipe FASIANÍDEA. O ressurgimento do Coió veio com o triunfo por 2 a 0 sobre os Tigrinhos Cor-de-Rosa, e a classificação foi encaminhada metendo 4 a 2 no Tilápia, o maior rival do clube. Figurava em terceiro lugar e na zona de classificação, o Coió, ao término da quarta jornada do hexagonal. A raça, a garra e a pancadaria não faltavam nos jogos, mas os árbitros, que tanto prejudicavam, insistiam em tirar parte da glória daquele time: não davam cartões ao Coió.
Assim, que, depois de quatro partidas, éramos os mais disciplinados da competição. O único time sem ver a cor amarelada ou avermelhada das cartolinas. Iuri “Fossati” Müller, outrora centroavante rompedor, mas que ultimamente só andou rompendo os ligamentos do joelho e se tornou diretor técnico da equipe, indignou-se. Para a última rodada, quando o Coió não podia mais subir de posição e só precisava de um empate para garantir o terceiro lugar, exigiu violência mais convincente. Algo que COMOVESSE os árbitros e fizesse ecoar pelo ginásio inteiro o ruído de dentes inimigos rangendo em desespero e ossos quebrando sem piedade.
Por todos os deuses do futebol, uma carnificina daquelas entraria em qualquer vídeo dos tempos mais violentos da Libertadores e não passaria vergonha. Os representantes do laranja-e-negro Sobrinhos da Tia Carmen se esborrachavam pelo piso do terreno de jogo como tomates maduros, e ali permaneciam por longos segundos. Bater tornou-se algo tão normal que eu nem lembro de certas faltas que milhões de testemunhas atribuem a mim. O que lembro, isso sim, é de um carrinho dado para salvar uma bola sobre a linha, depois de todo o time ter sido batido. Prendemos a bola, agarramos o regulamento sob o braço, lemos bem e não corremos riscos. Quadros copeiros sabem a hora de não atacar. Seguramos o zero a zero e evitamos jogar a primeira das semifinais – partida imediatamente seguinte àquela, cuja disputa MATARIA de cansaço qualquer coió.
A preparação para a eliminatória não houve. Faltavam pernas, brônquios e neurônios para ilusionar qualquer coisa. Huevo, porém, continuava existindo. E foi pelos colhões, e nada mais, que se entrou em quadra para última partida. O jogo da vida, o mais importante da história do time e a garantia de medalha – pois só o vice e o campeão eram premiados. A final não importava. Chegar cansados e sem condições de correr não trazia motivos para preocupações, desde que o primeiro verbo tivesse razão de existir: chegar. Puxar tudo o que restava, arrebentar as juntas que ainda estavam inteiras e estourar os músculos que permaneciam se sustentando na posição correta. Esta era a TÁTICA.
“Quantos ovos tu tens?”, perguntou o Fossati do Coió, vestindo uma remera do Peñarol, para cada um dos atletas. E de cada um dos atletas ouvia: “dois”. “E quantas chuteiras tu estás usando?”, continuou o treinador. “Duas”, era a resposta, pois mesmo sendo futsal os SAPATOS são usados para chutar. “Então”, concluía o comandante, “é um ovo em cada chuteira, e vamos ganhar esse jogo”. O oponente do mata-mata foi o mesmo Galo Cinza da goleada roubada da primeira fase. Yuri Lima, artilheiro do Coió, que marcou gols em todas as partidas do time com exceção do 0 a 0, pôs os celestes-grafitados na frente no primeiro tempo. A face da Terra jamais viu comemoração semelhante.
O campeonato e o jogo deviam ter acabado ali. Com o açúcar das grandes façanhas a adoçar-nos os lábios. Infelizmente, havia mais. O esforço pesou e a ausência de suplentes berrou. Ao fim do confronto, o Galo Cinza teria remontado para 4 a 1 – o time gris acabaria campeão do certame, com OBSCENOS quase-quarenta-gols em sete partidas. O raçudo Coió ficou em terceiro. Não houve medalha, mas também não existiu decepção: fizemos o máximo. O homem, desde que era uma ameba, tem um limite. Atingi-lo é chegar ao topo das possibilidades, e cair deixando tudo em cada disputa não é vergonhoso. Perguntem para o Verón ou para qualquer jogador do Estudiantes de La Plata. Eles saberão explicar.
Qual as amebas primordiais, eles se apoderaram de cada canto do mundo - onde pudessem encontrar terra, formigas, pasto ou qualquer coisa minimamente atrativa para o estômago. Uns ficaram na África. Outros caminharam na direção da Ásia. Daqueles que suportaram o frio, parte cruzou o gelo e foi parar na estranha América do Norte. Os demais se contentaram em ocupar a península europeia. Também havia os mais ardilosos, capazes de montar botes feitos com CASCAS DE NOZ e oferecer aos desafetos, apontando para o mar e grunhindo que lá se encontrariam palmitos sem fim. Quem sobreviveu não voltou com palmeiras nem coqueiros, mas povoou as ilhotas salpicadas no Oceano Pacífico.
Os pioneiros norte-americanos, por sua vez, vieram baixando. Empurrados pelo tédio, pelas ABELHAS e por uma inquietude que lhes dizia que haviam perdido alguma coisa (um resquício inscrito nos genes e manifestado cada vez que o homem contemporâneo médio refaz um caminho na certeza de que esqueceu algo), eles desceram no mapa ainda não desenhado. Fizeram umas badernas na finura centro-americana, expurgaram meia dúzia para o Caribe, e continuaram a viagem até a América do Sul. O passar das eras mudou cores de peles, formatos de olhos, criou ideologias e culturas distintas, mas em todos os cantos as guerras estouravam e eram concluídas com a vitória dos mais aptos a lutar, forçar os músculos e arrancar suor do fundo das entranhas, nem que para isso fossem abertas as artérias e viessem junto uns LITROS de sangue.
Milhões de anos depois, a humanidade inventou o esporte. Que nada mais é do que a barbárie civilizada. O esporte, o futebol, não podem ter a pretensão de serem nobres. Podem ter momentos de beleza, mas jamais serão artísticos. Mesmo o drible mais bailarino foi parido para buscar o gol – e o gol rende a vitória na guerra travada dentro de cada cancha. Se o lance não foi pensado nesse intuito, é válido desferir machadadas no pescoço alheio, tesourear as pernas adversárias e cravar forcados nas costas de quem se fresqueia. E se foi, também é válido, porque os defensores contribuem para o triunfo ao evitar que a busca inimiga pelo gol FLORESÇA. Chama-se raça. Cruzando a fronteira, chama-se huevo.
“Huevo!”, ribombava pelas esquinas do ginásio santa-mariense cada vez que o time vestido de celeste se reunia no seu pedaço de quadra. Não eram espartanos invadindo a Região Central do Rio Grande. Eram dois paulistas, um deles de ascendência africana e com passagens pelo ACRE, um italiano de Campinas do Sul, um bagual do Alegrete, um dito uruguaio de Tacuarembó que é desmentido por certidões que apontam Santa Maria como a cidade natal, um ibirubense desgarrado e um francês de nascimento, que prefere a Espanha mas tem certeza que é gaúcho e ijuiense. Era um time de nome estranho, exposto a uma situação crítica e compensando na alma o que as pernas não conseguiam fazer. Era o Coió FC, que apesar das muitas alternativas só tinha, na realidade, cinco atletas em condições de jogo.
No primeiro dia, Mathias Rodrigues (goleiro), Luiz Valério Seles, Guilherme Porto, Yuri Lima e Maurício Brum. No segundo, um Porto de pernas destruídas perigou deixar a equipe com dez (ou QUATRO, já que era salão), mas o campinense Gabriel Eduardo Bortulini tomou o primeiro BONDE desde a longínqua Rivera onde estava e conseguiu completar a escalação. Ainda assim, tratava-se do único time sem reservas na segunda edição de 2009 (Clausura) do Torneio Aberto Misto Para Alunos da Comunicação Social, o TAMPACS. Por isso, huevo. Ou variações pleonásticas como cojones e bagos. O Coió tinha um goleiro que vestia óculos e touca de mergulho, um capitão que trajou SUSPENSÓRIOS na estreia e até um vivente de GUAIACA e lenço.
O time entrava em quadra unido, de mãos dadas como a Seleção Brasileira de 1994 (a mais pragmática de todas as Seleções Brasileiras), e saudava as arquibancadas tomadas de aficionadas e adversários. Depois, ia para o outro lado da cancha e repetia o gesto para os degraus vazios, em honra aos ESPÍRITOS. Aquecia com uma bola de futebol americano, tentando encaçapá-la na cesta de basquete. O público sentiu que ali estava uma equipe destemida e os neutros passaram a vibrar pela camisa celeste-grafitada – adquirida num desespero para se ter fardamentos iguais e baratos, ainda no tempo do Apertura, e numerada a CANETA. O Coió tornou-se um Ameriquinha do Rio ou um Nacional Querido do Paraguai, ganhando um espaço secundário nos corações de todo um povo.
Por aquele punhado de jogos, a equipe precisou deixar de lado cervejas, cigarros e moças vestidas de colegial. E pelejou com a gana de quem conhece o quanto foi MARTIRIZADA para estar ali. Meu gol no segundo jogo teve a essência do persistir. Uma pelota brigada do início ao fim, o arqueiro (embriagado) espalmando sempre, eu caído, cabeceando, chutando no travessão, pegando a sobra, acertando o zagueiro, e pateando o novo rebote para as redes, com um defensor desesperado atirando-se para tentar salvar o gol COM A MÃO. Plasticamente, o tento mais feio possível. Animicamente, o melhor da história dos esportes com bola e goleiras. Todas as pelotas não dominadas, os passes errados, os carrinhos não dados e as derrotas, foram redimidas naquele gol.
O Coió estreou contra o tricampeão do TAMPACS, o São Caetano Peruzzolo, e caiu por 2 a 1 com muito huevo. Na segunda rodada, uma arbitragem que concedeu três gols irregulares ao Galo Cinza do Topete Vermelho ocasionou a imoralidade de um despudorado 7 a 4 a favor da equipe FASIANÍDEA. O ressurgimento do Coió veio com o triunfo por 2 a 0 sobre os Tigrinhos Cor-de-Rosa, e a classificação foi encaminhada metendo 4 a 2 no Tilápia, o maior rival do clube. Figurava em terceiro lugar e na zona de classificação, o Coió, ao término da quarta jornada do hexagonal. A raça, a garra e a pancadaria não faltavam nos jogos, mas os árbitros, que tanto prejudicavam, insistiam em tirar parte da glória daquele time: não davam cartões ao Coió.
Assim, que, depois de quatro partidas, éramos os mais disciplinados da competição. O único time sem ver a cor amarelada ou avermelhada das cartolinas. Iuri “Fossati” Müller, outrora centroavante rompedor, mas que ultimamente só andou rompendo os ligamentos do joelho e se tornou diretor técnico da equipe, indignou-se. Para a última rodada, quando o Coió não podia mais subir de posição e só precisava de um empate para garantir o terceiro lugar, exigiu violência mais convincente. Algo que COMOVESSE os árbitros e fizesse ecoar pelo ginásio inteiro o ruído de dentes inimigos rangendo em desespero e ossos quebrando sem piedade.
Por todos os deuses do futebol, uma carnificina daquelas entraria em qualquer vídeo dos tempos mais violentos da Libertadores e não passaria vergonha. Os representantes do laranja-e-negro Sobrinhos da Tia Carmen se esborrachavam pelo piso do terreno de jogo como tomates maduros, e ali permaneciam por longos segundos. Bater tornou-se algo tão normal que eu nem lembro de certas faltas que milhões de testemunhas atribuem a mim. O que lembro, isso sim, é de um carrinho dado para salvar uma bola sobre a linha, depois de todo o time ter sido batido. Prendemos a bola, agarramos o regulamento sob o braço, lemos bem e não corremos riscos. Quadros copeiros sabem a hora de não atacar. Seguramos o zero a zero e evitamos jogar a primeira das semifinais – partida imediatamente seguinte àquela, cuja disputa MATARIA de cansaço qualquer coió.
A preparação para a eliminatória não houve. Faltavam pernas, brônquios e neurônios para ilusionar qualquer coisa. Huevo, porém, continuava existindo. E foi pelos colhões, e nada mais, que se entrou em quadra para última partida. O jogo da vida, o mais importante da história do time e a garantia de medalha – pois só o vice e o campeão eram premiados. A final não importava. Chegar cansados e sem condições de correr não trazia motivos para preocupações, desde que o primeiro verbo tivesse razão de existir: chegar. Puxar tudo o que restava, arrebentar as juntas que ainda estavam inteiras e estourar os músculos que permaneciam se sustentando na posição correta. Esta era a TÁTICA.
“Quantos ovos tu tens?”, perguntou o Fossati do Coió, vestindo uma remera do Peñarol, para cada um dos atletas. E de cada um dos atletas ouvia: “dois”. “E quantas chuteiras tu estás usando?”, continuou o treinador. “Duas”, era a resposta, pois mesmo sendo futsal os SAPATOS são usados para chutar. “Então”, concluía o comandante, “é um ovo em cada chuteira, e vamos ganhar esse jogo”. O oponente do mata-mata foi o mesmo Galo Cinza da goleada roubada da primeira fase. Yuri Lima, artilheiro do Coió, que marcou gols em todas as partidas do time com exceção do 0 a 0, pôs os celestes-grafitados na frente no primeiro tempo. A face da Terra jamais viu comemoração semelhante.
O campeonato e o jogo deviam ter acabado ali. Com o açúcar das grandes façanhas a adoçar-nos os lábios. Infelizmente, havia mais. O esforço pesou e a ausência de suplentes berrou. Ao fim do confronto, o Galo Cinza teria remontado para 4 a 1 – o time gris acabaria campeão do certame, com OBSCENOS quase-quarenta-gols em sete partidas. O raçudo Coió ficou em terceiro. Não houve medalha, mas também não existiu decepção: fizemos o máximo. O homem, desde que era uma ameba, tem um limite. Atingi-lo é chegar ao topo das possibilidades, e cair deixando tudo em cada disputa não é vergonhoso. Perguntem para o Verón ou para qualquer jogador do Estudiantes de La Plata. Eles saberão explicar.
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A propósito, esta semana não vai ter nenhum “perpétuo” eleito. Fica como homenagem ao Coió FC e suas glórias do fim de semana, ao estilo Prêmio Nobel da Paz depois da morte de Mahatma Gandhi.
Fotos por Gabriela Moraes e Anelise Dias.
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