quinta-feira, 16 de julho de 2009

O desalinho dos astros é pouco para o Glória

PORTO ALEGRE – Um torcedor nas arquibancadas do Parque Lami parecia seriamente indignado. Se houvesse cobrança de ingressos, é possível que o cidadão fosse até as bilheterias do estádio pedir o dinheiro de volta. Diria ter sido enganado. Anunciaram-lhe o Glória como sendo “um ABISMO”, no sentido da grande qualidade do time vacariano, e não era isso que ele via em campo.

Quiçá fossem os astros desalinhados. Algo a ver com PLUTÃO, que nem planeta mais é, entrando na casa de Saturno e fazendo ALGAZARRA. E os demais corpos celestes observando a balbúrdia SOBRESSALTADOS. Sem saber se deviam esperar a briga aumentar ou imitar futeboleiros, ensaiando um deixa-disso. Os desacordos astrológicos claramente se refletiam no futebol do Glória, que depois de entrar em campo levemente animado, com um ESTILOSO uniforme negro e dourado, desempenhou uma apresentação PAUPÉRRIMA no primeiro tempo do duelo contra o Porto Alegre.

Virou um “jogo de xadrez”, na definição batida que alguns repórteres de campo usaram. Estudado, com ações calculadas e, naturalmente, contando com cavalos (para dar carrinhos) e torres (desviando bolas altas). Um jogo de xadrez pode liberar as mais altas doses de substâncias ORGÁSMICAS para alguém que esteja diretamente envolvido nele, dependendo do que aconteça no tabuleiro, mas para o público sempre será uma lenta mesmice à espera de uma definição que parece nunca vir. Nas arquibancadas ocupadas em grande parte por torcedores “com média de idade de 60 anos pra mais” (nas palavras dos próprios), os bocejos proliferavam. Só eram cortados por eventuais berros mais vigorosos que rompiam o silêncio.

Levando no BAGAGEIRO do ônibus que excursiona pelo Rio Grande um CAIXOTE com a maior coleção dessas RELÍQUIAS que a tabela da Segundona conhece por VITÓRIAS, o Glória não podia ser tomado exatamente como fraco. Estava, porém, buscando o ataque com pouca insistência para quem ostentava tamanho retrospecto. Como se tivesse todas as tardes do inverno à disposição, o time de Vacaria, das 18 vitórias e 7 empates em 26 pelejas, jogou um futebol muito parecido ao que deve ter apresentado na sua única derrota em todo o certame – contra o Panambi, em 30 de abril. O técnico Lisca, do time da capital, atribuiu o desinteressante primeiro tempo ao “muito respeito dos dois lados”.

Se é assim, esse respeito não é bom e a gente não gosta, para mudar o bordão. Poucos jogadores mostraram algo mais animador num meio jogo com lances de ataque mais raros que BACALHAUS no rio POTIRIBU. Entre esses seletos, Marcelo Müller, do Glória. No intervalo da partida um sujeito com pinta de empresário questionou a reportagem do Futebesteirol sobre quem seria aquele moço da camisa 11 no time de Vacaria, recebendo de volta o nome. Caso Marcelo Müller apareça no futebol do VIETNÃ em breve, sabem quem culpar. Para a etapa final, Lisca efetuou uma troca de GABRIÉIS: saiu Gabriel Davis, entrou Gabriel Schacht, e com prenomes iguais se esperava uma AGUDEZ diferente.
Nem tanto pela entrada de Gabriel no lugar de Gabriel, mas inegavelmente pelo novo pensamento, o segundo tempo teve o que o primeiro fez questão de se ESQUIVAR de ter. Como os astros permanecessem fora do local correto, o Glória sofreu mais, e aos 52 minutos saiu atrás na contagem. “Se bater mal eu vou pegar, negrão”, provocou o goleiro Marcelo Pitol, do time de Vacaria. E repetiu: “se bater mal eu pego”. O negrão não bateu mal. De pênalti, o folclórico Adão, centroavante e capitão do Porto Alegre, determinou que nos minutos seguintes o quadro do Lami APALPARIA os três pontos da vitória, metendo o gol do 1 a 0 – e que a única chance de Pitol pegar a bola seria no fundo dos seus cordões.

Ao gol seguiram-se outras oportunidades sonhadoras do Porto Alegre. Numa bola cruzada à área vacariana, um daqueles puxões de camisa que nunca rendem qualquer marcação exaltou o massagista do time da casa. Voltando de um TRATAMENTO atrás da goleira, passou pelo bandeirinha e pediu um novo pênalti. “Não preciso de ajuda. Eu não te ajudo a fazer massagem”, rebateu o mediador. Nem o Glória precisava de ajuda para recuperar a ESTIMA dos seus e honrar os números. Sem necessidade de longas análises FREUDIANAS, a marcação endureceu e o time foi, aos POQUITOS, mudando a zona de ação do seu próprio campo para a metade ofensiva do gramado. Antes era o Porto Alegre quem jogava de forma mais violenta - num espaço de tempo breve, contudo, já se acumulavam jogadores porto-alegrenses atirados ao chão, ALVEJADOS por entradas mais duras, e até meiões rasgados eram visíveis nas PATAS dos representantes do time da casa.

No fim do jogo, um indignado Adão putearia os atletas que “não jogam merda nenhuma (sic) e passam o tempo inteiro dando porrada”. O perigo aumentava para a integridade física dos capitalinos e para a invencibilidade da meta local. Diante dos olhos do nativista JOÃO DE ALMEIDA NETO, presente no Parque Lami, o valente quadro da PORTEIRA do Rio Grande do Sul, alcunha de Vacaria, pressionou até o limite. Fossem o Glória fogo e o Porto Alegre água, estes já estariam entrando em ebulição quando, aos 72 minutos, o zagueiro Jovany aproveitou um lance confuso na área porto-alegrense e anotou o 1 a 1. Batendo, porque é assim que se joga uma Segundona quando se quer subir, a equipe visitante tomou conta do jogo e não foi ameaçada depois do empate. Perdeu a liderança do grupo para o Cerâmica, que superou o lanterna TAC por 1 a 0, mas segue imbatível.

Nem o desalinho dos astros pôde com o Glória. E o Porto Alegre, fora da zona de classificação ao acabar o dia, por fim caiu no abismo.

Fotos minhas. Praticamente exclusivas, já que só havia dois fotógrafos presentes e o outro não parecia muito empenhado.

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