segunda-feira, 15 de junho de 2009

Milonga de uma estância antiga

O Bagé que invadiu o campo dos Eucaliptos com flamantes e significativas listras aurinegras – o mesmo quadro que EMPILHOU soberanos 31 pontos na primeira fase – é, hoje, um time incerto. Cambaleou e caiu diante do onze alvo (mais um que aderiu ao branco no uniforme) do Riograndense, no domingo, dia em que TRUNCOU a sua classificação à etapa SEMI-FATAL do certame. O 2-1, disputado segundo a segundo, carrinho a carrinho, foi das mais dignas apresentações registradas neste profundo lodaçal que é a Segundona.

Iniciou pulando agressivamente, o mágico esférico dono do PODER de propiciar GRITOS. A pelota voava da área do Bagé ao terreno defensivo dos locais, atingindo o duro gramado santa-mariense e tornando o match impróprio para a prática do tiki-tiki e de OUSADIAS semelhantes. Os fronteiriços trataram desde o princípio de municiar o atacante Marcelinho, maior goleador do campeonato até aqui, que vagava como um sorrateiro LADRÃO DE ESTRADA entre os viris defensores da cidadela rubro-esmeralda - recentemente PICHADA de branco. Os periquitos também anunciaram as suas armas: apostar na velocidade e na bravura do PONTEIRO Giovani, capaz de encontrar o jubiloso pé do centroavante Juninho Laguna em algum escaninho da grande área.

Tarefas das mais complexas, as pretendidas pelos quadros no domingo. Encardidas, até. Porque não é driblando que um ofensivo mais faceiro superará toda a VIVÊNCIA de um Darzone ou de um Aládio, as duas PAREDES que sustentavam o baluarte do Grêmio Bagé. Giovani até tentou, enfrentou com velocidade a rigidez defensiva consolidada por intermináveis anos de Segundona presentes nos assustadores nomes já citados. Os frutos não foram dos mais proveitosos, porém. E para alargar as complicações, Bonaldi, o defensor mais sério já encontrado no infindo HORIZONTE pampeano, resolveu passar SEM OLHAR nas proximidades da área defendida por Douglas. O infortúnio não foi perdoado pelos eternamente destemidos filhos de Bagé. Marcelinho, o homem-gol, agradeceu o presente e transformou a bobeada de Bonaldi no doído 0-1.

Eis que, adocicado com a prococe vantagem, o jalde-negro de número oito, nomeado de HÉBERSON por sua mãe, vira-se para a multidão aglomerada na tela e INCITA. Irados com o gesto JUVENIL do defensor bajeense, os torcedores ATINGIDOS pela provocação marcaram o número do rapaz. A cada toque na pelota, brados de “é esse!” (com o significado futebolístico de: “QUEBREM!”) ecoavam pela cancha. Héberson colaborava com o delírio coletivo colecionando passes e lançamentos desastrosos. Mas rir da desgraça particular do número oito era muito pouco para quem foi aos Eucaliptos esperançoso. E a realização da tarde ensolorada passava, inescapavelmente, por uma vitória sobre o Bagé. E então o Riograndense decidiu que venceria.

Ainda restava um quarto de hora para o término da primeira etapa, quando Vainer, o lateral-esquerdo que vestia a mítica 10, tratou de sugerir uma nova alternativa para penetrar nos domínios mais recônditos dos FORJADOS na Pedra Moura: cruzar bolas para a área, centrar bolas para a área, jogar bolas para a área. Simples. Pressionar com chuveirinhos ao som da EMOÇÃO que pairava nas tribunas. E foi Vainer quem, dois minutos depois da punhalada de Marcelinho, encontrou a cabeça de Rangel quase dentro do gol do inseguro Fernando. Empate, festejos mil, urros para o (não esquecido) número oito e a primeira narração de um gol do Riograndense diretamente das cabines de imprensa reinauguradas - as famosas janelas que despertavam a curiosidade dos FORASTEIROS, insanos que juravam acreditar que tudo não passava de um depósito de PÓLVORA para um eventual distúrbio platino.

O 1-1 reformulava o sistema de ataque do Grandense. O Bagé, já sem os louros de estar vencendo, não tinha mais motivos EMPÍRICOS para prosseguir com o modo retranca. Posicionou-se mais a frente e reestabeleceu as possibilidades de Giovani fazer CORRERIA. Devidamente habituado com a sutileza de Darzone, o baixinho evitou o confronto direto com a zaga central. Tratou de iludir os laterais, arrancando para a linha de fundo com a FÚRIA peculiar dos vitoriosos. Giovani correu milhas, bateu de frente com os armários da defesa do Bagé, esfolou-se na grama rala dos Eucaliptos e não encontrou a jogada sonhada.

Simultaneamente, Juninho Laguna, o centroavante, evitava movimentos mais BRUSCOS. Alheio ao SOFRIMENTO COLETIVO dos demais, esperava por um improvável cruzamento perfeito. Até que uma epifania o despertou. Aos trinta e um do primeiro tempo, Vainer tentou alcançar Laguna pela vigésima vez. A pelota encontraria as SÔFREGAS mãos de Fernando, mas Juninho buscou o choque. Moveu-se. Pulou com o arqueiro, que, novamente, soltou a redonda. E Juninho, com seu desinteresse goleador, enviou-a para os cordões como quem descasca uma bergamota que não oferece verdadeiras resistências: 2-1.

Os minutos restantes da primeira etapa foram de uma dominação monumental dos dois volantes do Periquito – os melhores jogadores em campo. Bi e André Tereza desarmavam com devoção, passavam com rapidez e erguiam suas chuteiras no décimo degrau do pavilhão, se necessário. Asseguraram a completa PAZ defensiva até que os últimos raios do ASTRO-REI determinassem a chegada do intervalo. Os quinze momentos estratégicos foram, é provável, de nervosas instruções no vestiário visitante. Aos suplentes que quedaram em campo, como o sul-coreano Sun Bo, para sermos mais específicos, a ocasião foi propícia para RELAXAR.

Na volta à cancha, não houve imediata inversão de tendências: os ferroviários seguiram agressivos, construindo chances, dinamizando o ESPETÁCULO e...arruinando tudo o que fizeram ao perder tentos absolutamente incríveis. Giovani, ele de novo, teve a mais clara. Venceu carrera pela banda direita e, quando bastava sobrepujar o aflito arqueiro, esperou a recuperação do zagueiro para arriscar uma FINTA. A jogada ainda carece de demoradas explicações. Laguna também falhou em finalizações que findaram nos pálidos braços de Fernando. Da ineficiência verde, brotava o entusiasmo ainda inexistente para os comandados por Luís Clóvis Lemos. O Grêmio Bagé tratou de ser ameaçador como indica a fama, fato que valorizou por completo o embate. Em determinado instante, os quadros estavam tão alucinados em lograr a vitória que ENORME PARTE da torcida que ouvia o confronto pelo rádio cansou de penar e ESCALOU o estádio para verificar se tudo aquilo era VERÍDICO.

Esses, os invasores, puderam presenciar a bizarra expulsão do, veja só, nobre camisa oito. Héberson esfacelou-se no chão após MANHOSA cama-de-gato de Juninho Laguna. O árbitro apontou falta, o que não o impediu de proferir meia dúzia de desaforos à arbitragem. João Carlos dos Santos o expurgou de imediato. A mui leal e valorosa Brigada Militar precisou adentrar o campo para proteger a integridade física e INTELECTUAL do apitador, ameaçado por bajeenses em chamas. A desvantagem, agora também numérica, parece ter incendiado o ímpeto JUSTICEIRO das abelhas. O Bagé insistiu e reclamou um pênalti não marcado nos acréscimos. Bonaldi, tratando de reconstruir a sua honra, EMBICOU a última bola do jogo para a lateral, bradando algo como “triunfei, carajo” na linguagem dos grandes capitães.

A partida do Bagé não foi exatamente ruim. Mesmo correndo atrás do Riograndense durante boa parte dos minutos, o aurinegro só padeceu defensivamente quando Darzone, muito em função do cansaço, mostrou-se entre capenga e assustado na segunda etapa. A derrota não foi trágica e muito menos era tida como impensável. O problema reside na tabela. Outro aurinegro, o TAC, divide a vice-liderança da chave com o Bagé. O confronto direto pelo returno será em Três Passos. Cair na segunda fase seria uma baixa inadmissível para o Bagé, tanto pelo elenco que montou quando pela brilhante campanha na fase inaugural. O absurdo, porém, não parece muito distante. E só se afastará se, no próximo domingo, o jalde-negro bater o mesmo Riograndense (praticamente classificado) na Pedra Moura. Outra batalha, outra milonga.

A quarta foto é de Maurício Brum. As demais, minhas.

Um comentário:

Eduardo disse...
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