segunda-feira, 18 de maio de 2009

Porque a última folha do outono não será castilhense

Mas aí o Glória fez outro. E outro. Em dois minutos, foi-se do 1 a 2 ao 1 a 4.

Começar o texto de um jogo usando frases que poderiam aparecer somente no último parágrafo é a melhor forma de resumir a eliminação do Milan, ontem. Quando demos por conta, da sua reação só restava uma derrota por goleada. Não que estivéssemos achando que o time de Júlio de Castilhos, lanterna do Grupo 3, fosse fazer magia e vencer ao natural o Glória de Vacaria, líder da chave e dono da segunda campanha mais bagual da Segundona (só o Bagé tem aproveitamento melhor). Apenas confiávamos no improvável, porque é o que o futebol nos permite.

Não era o Milan o time que buscara, a 29 de março, em cinco minutos e com nove em campo, um empate contra um Santo Ângelo inteiro que vencia por 0 a 2? Não era o Milan o time que, com direito a três expulsos, batera, duas semanas mais tarde, o Atlético por 2 a 0? E na rodada seguinte, abrindo o returno, triunfara lá em Carazinho por 2 a 4? E não era esse mesmo Milan que, quando todos acreditavam cegamente que essa reação continuaria, levou 0 a 2 do fraco Lajeadense dentro de casa, complicando-se seriamente? Não seria esse Milan de tantos absurdos sucessivos capaz de vencer um time que só caíra uma vez, para o Panambi, em toda esta Segundona?

Não seria.

Com oito minutos o Glória fez 0 a 1, pelos pés de MATÃO, que se encontrava em posição duvidosa. As reclamações duraram pouco. Valduíno, o obstinado e genioso treinador do time de Júlio de Castilhos, o irredutível que conseguirá a façanha de, tendo na maior parte do tempo a pior campanha do grupo, manter o emprego da primeira à última rodada, logo gritava bem menos. Os torcedores, espirituosos nas jornadas passadas, ontem já estavam também mais quietos. E não por causa da temperatura um pouco baixa. Perderam o entusiasmo, isso sim. Havia poucos milanistas no estádio, mesmo sendo aquela a possível despedida do time e também a sua última chance. Registrou-se uma renda de trezentos e cinquenta reais.

O sol iluminava vinte e dois atletas sem maiores responsabilidades. De um lado, os líderes classificados; do outro, os lanternas praticamente eliminados; no placar, um resultado favorável aos primeiros. Daí que a igualdade que a tabela de classificação em momento nenhum indicou passou a ser vista no campo. Ainda que as chances do Glória fossem mais reais, incluindo bolas na trave (pois “a sorte do líder não é a mesma do lanterna”, já dizia um sábio), as duas equipes criavam oportunidades em quantidades parecidas, tendo volumes de jogo equivalentes. Até o intervalo. No segundo tempo, em três minutos os gols dos times dobraram. O dobro de um, dois. O dobro de zero, nada. Milan 0 a 2 Glória, Marcelinho balançando as redes.

Aos 56 o Milan descontou. Renato escapou livre pela ofensiva direita e bateu fraco. A bola passou pelo goleiro Marcelo Pitol, quicou no gramado e deixou todos em suspense – iria dali para o gol ou para fora? Foi na trave, e dela para as redes. Aos 58, no entanto, Didi não gostou de uma falta feita pelo Glória e empurrou o jogador da equipe visitante. Recebeu o vermelho pela agressão – a nona expulsão de um atleta milanista em treze rodadas de Segundona. “Vocês estão bagunçando o jogo”, gritou o capitão rubro-negro Tiago ao árbitro, que depois tentaria desbagunçar, marcando vários lances a favor do time da casa. Mas o 1 a 2, em inferioridade numérica, seguia. Continuava sendo preciso uma façanha: nem com empate sobreviveria o Milan.

Sem qualidade para buscar o sonho pelo chão, foi através das faltas no campo de ataque, dos cruzamentos e levantamentos, que os castilhenses tentaram seus derradeiros esforços nesta Segundona. Falhavam, persistiam, deixavam no ar a dúvida de que talvez vissem o juiz dar-lhes um pênalti se caíssem na área de forma mais convincente. Mas aí o Glória fez outro. E outro. Em dois minutos, foi-se do 1 a 2 ao 1 a 4. Voltamos ao início do texto, porque Roberto Jacaré, aos 76, e RONALDO, aos 78, ambos em lances pela esquerda de ataque, trataram de desestruturar e matar os locais.

Eram agora nove homens de vermelho e preto, mais um goleiro, não tendo o que fazer sobre o gramado. Coube ao nosso Valduíno dar um fecho de ouro à participação milanista no campeonato, xingando o bandeirinha, sendo expulso do banco aos 87 minutos e deixando o campo com berros de que o árbitro não valia nada. Incapaz de vencer uma partida que não podia ter outro resultado, o Milan despediu-se da Segundona Gaúcha na penúltima rodada da primeira fase. Não será a última folha do Grupo 3 a ser derrubada no outono – isso caberá ao Atlético Carazinho ou ao Lajeadense, que brigam pela última vaga e fazem um confronto direto na rodada decisiva.

No próximo final de semana, em Panambi, os castilhenses serão apenas uma folha seca no chão outonal. Presentes, visíveis e mortos. Com grandes possibilidades de serem pisoteados.

3 comentários:

Yuri disse...

Hahahahaha... essa foi demais!!

Eu, como entusiasta do futebol paulista, ao ver o nome do glorioso MATÃO, já acreditei se tratar de um matonense (de preferência proveniente da Matonense) legítimo. E sim, Matão é nome de cidade (por sinal, um dos melhores nomes que existem).

Nisso, vou até o site do Glória, e vejo que ele veio do São José-POA, acabando com minhas esperanças de ele ser da gloriosa Matonense. Mas não bastasse para minha surpresa, o goleiro do Glória, Felipe, veio da Matonense!!!!!!

Pesquisando mais um pouco, vejo que o Matão realmente é paulista, só que ele não nasceu em Matão, nasceu em JABOTICABAL!!!!!!!!! Não deu prá segurar a risada...

Essa foi demais... confusões que só a briosa e épica Segundona Gaúcha podem causar...

Te surpreenderia o Milan GANHAR na última rodada?? A mim não, seus relatos me convenceram da mística do Valduíno.

Argemiro Luís disse...

Muito pertinente o texto. Não abandonem o Milan, pois nosso interior precisa de abnegados como os castilhenses para se manterem presentes no imaginário popular e na vida real. Outros clubes de nosso interior, mesmo na derrota, não devem desistir. A comunidade precisa apoiar sempre e/ou acordar para a importância desse esforço esportivo e sustentar os sonhos que avançam de geração em geração.
Parabéns pelo texto!
Argemiro Luís

Maurício Brum disse...

@ Yuri: eu não respondi antes pra não armar uma briga maior com o pessoal de Panambi, dizendo que acreditava numa vitória de um time ELIMINADO sobre eles, fora de casa, hahaha. Acabou que o Milan conseguiu um honroso empate por 2 a 2 nesta rodada final.