terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Antipáticos

Quando um clube se orgulha de ser “simpático”, “querido por todos” ou algo do tipo, é porque não sobrou outra coisa para lhe trazer alento. Vide o São José de Porto Alegre, cuja suposta simpatia é exaltada até no hino, ou o América do Rio de Janeiro, em seu longo declínio nas últimas décadas, que encontra o ponto mais baixo neste 2009 em que o clube disputará a segunda divisão estadual. No futebol, ser simpático é demérito. Clubes vencedores são naturalmente odiados pelos torcedores das demais equipes. Os que não atrapalham os planos de ninguém, que não vencem, ou vencem raramente, estes são os simpáticos.

O Nacional do Paraguai é um desses. O clube fundado em 1904 foi grande no passado e permanece como o quinto mais vencedor do país (atrás de Olimpia, Cerro, Libertad e Guaraní), com seis títulos do campeonato. Mas não levanta a maior taça paraguaia há sessenta e dois anos. Em 1946, no primeiro campeonato da era profissional em que nem Olimpia e nem Cerro Porteño acabaram em alguma das duas primeiras posições (o vice foi o Sol de América), o Nacional encontrou pela última vez a glória. Depois, alguns vice-campeonatos esporádicos, muitas passagens pela segunda divisão, e tempo de sobra para que o clube adotasse a alcunha de “segundo time de todo paraguaio”.

Um simpático, o Club Nacional. Que mesmo assim contava até o ano passado três participações em Libertadores, com modestos dez jogos disputados e somente uma vitória – na sua primeira partida pela Copa na história, sobre o conterrâneo Olimpia, 2-1 em 6 de abril de 1983. Hoje o Nacional paraguaio foi ao Equador duelar com o tocaio El Nacional, maior campeão doméstico com treze troféus. Um gigante local, experiente em disputas continentais, representante do futebol do país do atual campeão da América e, além de tudo, aliado da altitude de Quito. Muito El Nacional para pouco Nacional. O futebol jogado até o intervalo confirmava os pesos das camisas: mais volume para o time da casa, que chegou a marcar um gol invalidado por impedimento.

Aos visitantes só uma chance claríssima perdida por Inca. A melhor chance do jogo, é verdade, porém nada mais que ela. Aí veio o segundo tempo e a loucura. O Nacional derrubou a altitude contra a qual tantos clubes brasileiros choramingam, empilhando golos. Cinco golos. Cinco em quarenta e cinco minutos – fora de casa. Uma vitória como não se via desde os 0 a 5 feitos pelo Vélez Sarsfield sobre o Rocha uruguaio em 2006. Onde foi parar a simpatia do Nacional? Dentro de uma Copa o espírito muda. Se ineditismos são raros numa competição que chega à meia centena de edições, a Libertadores cinquenta conseguiu que, logo na partida de abertura, o tal Nacional paraguaio tivesse a sua primeira vitória oficial sobre um estrangeiro nos seus 105 anos de existência. E por 0 a 5.

Isso na mesma noite em que, pelo Paulistão, Lenny fez um gol depois de 699 dias. Deve ser um sinal.

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