sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Once goles

Há quatro anos seria fácil dividir o significado de Corporación Deportiva Once Caldas em três itens:

1. Clube de futebol fundado em 1948, em Manizales, Colômbia. Manda seus jogos no estádio Palogrande e mudou nove vezes de nome antes de adotar o atual.
2. Campeão colombiano em 1950 e 2003. Campeão da Libertadores em 2004. Vice-campeão do mundo porque Jonathan Fabbro mandou na trave a quinta cobrança de pênalti do time em Yokohama – nas alternadas, o Porto ergueu a última Copa Intercontinental triunfando pela contagem final de 8-7.
3. Retranca.

O primeiro conceito, até que o clube feche as portas ou construa um estádio novo, não muda. O problema é que o segundo também não. E o segundo permanece igual a 2004 principalmente pelo fato de o terceiro ter deixado de fazer sentido. Este, logo o que não deveria ser mudado, o construtor de toda a mística ultradefensivista em torno do quadro de Manizales, foi jogado no baú do olvido.

Depois da Libertadores vencida e do Mundial literalmente batido na trave, o Once voltou à mediocridade de um time que, antes do campeoníssimo biênio 2003-2004, só tinha uma glória datada de meio século antes. A falta de camisa, parte necessária na explicação da queda, somou-se a outros dois pontos determinantes: o fim do fator surpresa favorável ao time colombiano e a impossibilidade de manter o seu futebol cativante – “feio”, segundo os artistas, mas campeão, e é o que interessa.

Sem sua retranca e seus ferozes contragolpes, tão marcantes nas vitórias de poucos gols de 2004, o Once Caldas passou a viver absurdos como o da noite de anteontem. Podia aquele mítico defensivista da metade da década levar quatro gols dentro de casa? Podia aquele time, na mesma partida em que sofresse esses quatro, fazer sete gols? Podia, afinal, o Once Caldas ter uma jornada de once goles?

A resposta, negativa quatro anos atrás, recebeu um “sim” desse time pós-glórias. Quarta-feira à noite, num Palogrande meio vazio, o Once venceu o Depor Jamundí por 7-4, com quatro gols de Iván Velásquez (três de pênalti). Remontou o 1-0 sofrido na ida e avançou à terceira fase da recém-recriada Copa da Colômbia, onde tentará uma vaga nas semifinais contra o Boyacá Chicó. Não será campeão – não pode ser. Nem a beleza de um sete a quatro pode salvar um time que, alegrinho por tantos gols, contraria a sua própria lenda. O Once era o maior pendão da retranca no sul da América. Se começar a vencer sob outra doutrina, aquele terceiro conceito estará perdido para sempre.

* * *

Confrontos da terceira fase da Copa Postobón da Colômbia:

Envigado FC (Envigado) - La Equidad (Bogotá)
Atlético Nacional (Medellín) - Expreso Rojo (Fusagasuga)
Once Caldas (Manizales) - Boyacá Chicó (Tunja)

Passarão às semifinais os vencedores de cada eliminatória. O quarto classificado será o perdedor com os resultados menos piores nesta terceira fase.

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