sexta-feira, 11 de julho de 2008

Terratrèmol

Mais de nove mil sócios do Barcelona assinaram o pedido de moção de censura, que provocaria uma votação pedindo a saída ou permanência do presidente Joan Laporta (foto à direita, abaixo) do comando azul-grená. Na véspera do encontro com as urnas, no fim de semana passado, ao melhor estilo de líder decadente investindo no populismo, Laporta mesclava pedidos de perdão com gritos de visca Catalunya lliure (viva Catalunha livre)! A resposta da torcida veio nas cédulas de papel: num claro indício de rejeição, 60,6% dos associados apoiou a moção. Foi, contudo, insuficiente para derrubar o chefe do clube: eram necessários dois terços dos votos.

Agravava-se uma crise cujo começo era bem anterior. Mais precisamente, iniciada depois de chegar ao topo: a partir da conquista da UEFA Champions League em 2006, o time de Laporta enfileirou resultados insatisfatórios e derrotas enfurecedoras, sendo vice-campeão da Supercopa Européia, do Mundial de Clubes e, na mais incrível entregada da temporada, do Campeonato Espanhol, em reação extraordinária do Real Madrid. E o desastre permaneceu em 2007/08, com participação medíocre na disputa pelos títulos nacionais e uma campanha de Champions que, se durou até as semifinais, nunca teve futebol capaz de iludir os torcedores.

A impopularidade do dirigente, ovacionado há cinco anos por começar a reerguer o clube, cresceu depois de suas repetidas ausências nos jogos do Barça fora de casa, sem acompanhar a delegação. Pelos maus resultados, pela aparente inércia, votou-se para tirar Laporta. Enjeitado pela maioria da afición mas sustentado pelo estatuto do clube, o comandante máximo azul-grená ratificou que seguiria no poder até o fim do mandato, em 2010. Até o Presidente de Governo da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, manifestou-se diante da situação, enviando um recado em que defendia o “respeito à vontade dos sócios”. Para muitos, o certo seria renunciar o cargo e convocar eleições imediatamente. Por baixo dos panos, enquanto Laporta dizia ser a votação “uma doce derrota” e que “não havia motivo para tanto”, parte dos seus assessores era contrária ao seu apego ao trono, rachando a junta diretiva – segundo a imprensa espanhola, os vices obrigariam o presidente a pedir demissão na reunião de terça-feira e nos encontros de ontem.
No le apoyan ni sus proprios directivos, pero se niega a dimitir, estampou o Marca da quinta-feira. Cinco horas reunidos e não houve maneira de convencer Laporta de que o melhor para o clube, ao menos no pensamento dos torcedores, era a sua saída. Uma junta dividida representou tiroteio de opiniões e os demitidos foram os próprios dissonantes: ontem, oito diretores, incluindo o primeiro vice-presidente, Albert Vicens (na foto acima, anunciando a demissão), pediram para sair. O Camp Nou foi abalado por um autêntico terratrèmol, o catalão para terremoto. Apesar disso, Laporta, sorridente, limitou-se a dizer que se daria um prazo de dois meses para mudar a opinião dos sócios, e então colocaria seu cargo à disposição na Assembléia de Compromissários de setembro. Cabe ressaltar que a Assembléia não tem poder estatutário para decidir a saída do presidente.

Discursos apaziguadores sem base na verdade, outra característica típica de líderes decadentes.

Nenhum comentário: