segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Perpétuo até o fim da semana (6): Roberto Mancini

“Sabe o caminho da rua?”

O Manchester City é o Chelsea pálido. A história dos dois nesta década é parecida na essência: times de importância menor em suas respectivas cidades e de poucos títulos no cenário inglês, cada um foi convidado ao delírio das glórias infindas quando uns bilionários se COMPADECERAM (?) e resolveram encher os BARRIS dos clubes com essa pólvora a que se dá o nome de dinheiro. Os de Manchester começaram a ser recheados mais tardiamente, e é por isso que sua palidez em relação aos londrinos não se refere apenas ao tom de azul da camisa: também faltam resultados para que a equipe do interior repita o fenômeno do Chelsea, arrancado dos soporíferos meios de tabela para concorrer seriamente a todas as taças de cada temporada.

Mark Hughes, não o fundador da Herbalife, mas o galês homônimo que jogou bola e depois virou treinador, sentava-se na casamata do estádio City of Manchester para comandar os azuis desbotados nos dias em que a prata começou a correr nas calhas do clube. Mais precisamente, no início da temporada passada, segundo semestre de 2008. Trouxeram-lhe contratações estelares, plantaram na torcida esperanças, mas desde então o City não levou título algum. Chegou a flertar com o rebaixamento, e só acabou a Premier League 2008/09 num HONROSO décimo lugar. O Derby County, que parece sempre fazer menos que DEZ pontos cada vez que EXCURSIONA pela primeira divisão inglesa, se contentaria com a posição. O City de bolsos cheios, não.

Então demitiram Hughes. Não imediatamente. Deram-lhe mais meio ano para mostrar serviço antes de desferirem-lhe uns chutes na RETAGUARDA, uns dias atrás. A notável evolução do time, de orgulhar qualquer Ipswich Town numa das suas raras passagens pela elite, continuou insuficiente para os anseios de quem deveria brigar por enormidades: os azulados de Manchester são os meninos que menos perderam na atual temporada da Premiership, duas vezes em 18 encontros, e mesmo assim precisam superar escarpas, rochedos e arroios para achar um vulto de troféu no meio do fog – a equipe é só a sexta colocada, com dez pontos a menos que o líder... Chelsea. Empates demais, eis o drama.

Com a saída de Hughes, entrou o italiano Roberto Mancini. Mancini ainda precisa se provar como treinador. Ganhou por três clubes diferentes a Copa Itália, um torneio desvalorizado, e foi tricampeão italiano tendo nas mãos uma Internazionale muito superior a qualquer adversário na Bota. No momento da dificuldade real, os torneios contra FORÂNEOS, não foi capaz de produzir ilusões na torcida da Inter. Eliminações nas copas europeias acumularam-se sem que a conquista de uma delas pudesse ser realmente sentida de forma próxima. A necessidade de se mostrar forte coincide com o que os azuis de Manchester precisam fazer, mas é o passado enquanto jogador que verdadeiramente aproxima o perfil de Mancini das intenções do clube.

Enquanto atleta, o hoje treinador se acostumou a ganhar títulos por quem é tão pouco habituado a eles quanto o City. Mancini alinhava pela Sampdoria quando o clube conquistou o único Scudetto da sua história, em 1991, e disputou suas únicas finais continentais. Estava na equipe vice-campeã da Recopa Europeia de 1989, campeã do mesmo torneio em 1990, e vice da Copa dos Campeões de 1992. Após, Mancini repetiu o caminho atuando pela Lazio: também venceu um Scudetto, raro para o clube (em 2000, vinte e seis anos depois da então última taça da liga italiana ganha pela Lazio), e participou das únicas decisões internacionais disputadas pela agremiação até o presente dia – da Copa da UEFA em 1998 (vice), e da Recopa e Supercopa Europeias em 1999 (campeão de ambas).

O italiano estreou sábado e venceu. Do outro lado, apenas o Stoke City. Dois a zero para os de Manchester, sem anomalias ou dificuldades. Não foi pela vitória que Mancini marcou a semana. Nem por seu cachecol alviceleste, minuciosamente escolhido para homenagear o clube em cuja casamata debutava. Sábado, Roberto Mancini pode ter começado a fazer um dos maiores favores possíveis à Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2010, sacando Robinho da equipe sem piedade diante do seu mau futebol. Robinho, esse moço dotado de uma técnica fora do comum, capaz de lances de real genialidade, mas que tem passado a maior parte do tempo alternando entre sumir das partidas e forçar a saída dos clubes que defende, apresentou-se no Manchester City um ano e meio atrás como o líder natural da revolução do time. Transformar-se-ia, com mesóclise, no melhor do mundo, vestindo aquela camisa.

Transformar-se-á não, meu filho. Deu vertigem a rapidez com que despencou o futebol de Robinho. O brasileiro já passou do estágio em que não faz diferença em campo: agora, prejudica o time com a sua presença. Erra passes, chutes, dribles. Tropeça na bola, isso quando a domina. Seguindo assim, ganhará a vida como peso para papel dentro de dois meses. Ao substituí-lo, Mancini deu um alerta ambíguo, que ALGUÉM precisa aproveitar – ou Robinho, que terá que jogar mais se quiser ter espaço no clube e no mundo, ou Dunga, que não pode mais convocar o atacante desse jeito. Tirando o ex-santista da equipe, o treinador italiano ainda provocou o momento mais risível da semana. Causou aplausos instantâneos de todo o estádio, que Robinho encarou como sendo palmas para si e agradeceu. Mas não havia bom futebol para saudar. E tampouco eram aplausos para apoiar alguém num mau dia.

As palmas eram o murmúrio aliviado pelo fim da ruindade vigente no gramado. Eram a espontaneidade de torcedores que reconheceram em Mancini um igual, outro enfarado dos erros de Robinho.

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